O presidente Vladimir Putin enviou a Donald Trump uma mensagem sobre a posição da Rússia acerca do cessar-fogo na Guerra da Ucrânia proposto pelos Estados Unidos, ditando um ritmo lento ao processo que o americano queria ver acelerado.
Nesta sexta (14), o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, disse que a situação permite “otimismo cauteloso” e que seu chefe repassou alguns dos pontos da visão russa para uma trégua durante conversa na noite anterior com o enviado de Trump a Moscou, Steve Witkoff.
“Há certamente razões para ser cautelosamente otimista. Ele [Putin] disse que apoia a posição do presidente Trump em termos de acordo, mas expressou algumas questões que precisam ser respondidas de forma conjunta”, disse Peskov.
Ele se referia à fala do presidente russo na véspera, quando elencou diversas questões que quer ver respondidas antes de uma trégua. Kiev já aceitou a pausa de 30 dias em um encontro com os americanos na Arábia Saudita na terça (11), e em troca ganhou a retomada da ajuda militar que Trump havia suspendido.
A questão é que o governo de Volodimir Zelenski quer quer os temas para a dita paz duradoura sejam discutidos durante o período, enquanto Putin sugere que só vai silenciar os canhões se o debate já estiver estabelecido.
“Como eles [os ucranianos] vão usar esses 30 dias? Vão continuar a mobilização, a se armar? Quem vai arbitrar violações na linha de contato? O que acontecerá em Kursk? [região russa invadida por Kiev]?”, questionou de forma cética.
Mais importante, ele disse que um cessar-fogo precisa embutir respostas para as causas de fundo do conflito —na sua visão, claro. A lista é conhecida desde junho passado, quando Putin listou exigências para encerrar o conflito iniciado por ele em 2022 pela primeira vez.
São elas a tomada das regiões que anexou ilegalmente no leste e sul ucranianos, a neutralidade de Kiev e a desmilitarização do vizinho. Peskov não revelou o tom da mensagem a Trump via Witkoff, mas certamente ela inclui esses temas e vários outros.
Entre eles está a questão das eleições ucranianas. O próprio Trump, em sua campanha para forçar Kiev a aceitar negociar, chamou Zelenski de “ditador sem eleições”. O mandato do presidente expirou em maio passado, mas a Constituição do país impede pleitos enquanto a lei marcial decretada em caso de guerra estiver em vigor.
Zelenski diz que realizará eleições assim que for possível dentro da lei, mas Putin já afirmou antes que o considera ilegítimo para assinar algum acordo de paz.
Do ponto de vista de Kiev, o Kremlin já descartou a proposta americana e está ganhando tempo para não melindrar excessivamente Trump. Os russos têm sido cautelosos com o alinhamento brutal da Casa Branca à visão de Putin sobre as causas da guerra e sua adesão à tese de que a Ucrânia terá de perder territórios —algo impensável em público nos tempos de Joe Biden.
Isso dito, Putin tenta retomar algum controle do processo com suas questões, devolvendo a proverbial bola que Trump disse ter jogado do seu lado da quadra quando arrancou o “sim” ao cessar-fogo dos ucranianos. Ele e o americano já disseram que vão conversar em algum momento sobre o assunto, talvez mesmo nesta sexta.
Outro motivo para a protelação do Kremlin é o avanço na região meridional russa de Kursk, que foi invadida por Zelenski em agosto passado. Agora, as forças de Kiev estão cercadas ou em retirada, em sua maioria.
Segundo o Ministério da Defesa russo, 29 localidades foram retomadas nesta semana, inclusive a vital Sudja, principal cidade que havia sido ocupada por Kiev e sua base de operações. O avanço não foi contestado pelo ucranianos e tem sido, grosso modo, confirmado por sites de monitoramento do conflito.