A carta sobre a cúpula do clima em Belém (COP30) divulgada pelo embaixador André Corrêa do Lago, que a presidirá, embora se atenha à linguagem prudente da diplomacia, contém palavras fortes.
O documento profere a usual exortação a governos, empresas e organizações: “2025 tem de ser o ano em que canalizaremos nossa indignação e tristeza para uma ação coletiva construtiva. A mudança é inevitável —seja por escolha ou por catástrofe”.
Apesar do arroubo, o texto passa ao largo do mau momento no multilateralismo, minado sob Donald Trump. Intimidação e isolacionismo foram ressuscitados após décadas de bonança globalizante no pós-guerra.
Há dois gargalos para a ação internacional contra a crise do clima: a queima ainda em alta de combustíveis fósseis e o financiamento de medidas de mitigação, para reduzi-la e neutralizá-la em menos de 30 anos, assim como de adaptação, para atenuar seus impactos presentes e futuros.
O primeiro mal é mencionado na carta. A inadiável redução do uso de carvão, petróleo e gás natural aparece só uma vez, quando trata dos objetivos fixados na COP28, omitindo que foram obliterados na subsequente COP29.
Não por acaso, as duas cúpulas foram realizadas em países exportadores de petróleo e gás, Emirados Árabes e Azerbaijão. Ambos são membros da Opep, condição ora cobiçada pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com a perspectiva de um novo pré-sal na foz do Amazonas.
Aqui, Planalto e Petrobras propagandeiam que a renda da margem equatorial custearia a transição energética. Alhures, petroleiras recuam de compromissos com energias renováveis, aproveitando o negacionismo climático impulsionado por Trump.
Estender-se sobre tal contradição equivaleria a falar de corda em casa de enforcado. Calar-se, entretanto, não dissipará o tom ambíguo que acompanha o anfitrião petista interessado em perfilar-se como estadista verde.
A carta dá mais atenção ao financiamento, ao tentar reviver a meta de US$ 1,3 trilhão por ano para mitigação e adaptação.
Mas instituições financeiras estão se afastando das exigências de neutralidade climática —como evidencia a debandada dos americanos da Net-Zero Banking Alliance, uma liga de bancos que se comprometem a aliar seus serviços com proteção ambiental.
A diplomacia está decerto condenada ao otimismo, mesmo com maus augúrios. Para outros setores, mais prudente é preparar-se para um mundo que vem escolhendo a catástrofe.