No Brasil, se consultar com um homeopata ou tomar “bolinhas” de homeopatia —glóbulos de lactose, a apresentação mais comum dos produtos— para lidar com alguma condição médica não é incomum.
Também é comum se deparar com questionamentos sobre a eficácia da homeopatia. Mas o que explica a sobrevivência da prática ao longo de séculos de forte avanço da chamada medicina tradicional —e por que tantos médicos e pacientes se engajam com a homeopatia, apesar de não haver comprovação de que os glóbulos funcionem?
Essas questões estão no cerne de “Cultura Homeopática: uma Investigação sobre a Comunicação do Desconhecimento” (Editora Unesp), livro recém-lançado do sociólogo Lenin Bicudo Bárbara.
Doutor pela USP e servidor público federal, Bicudo discute neste episódio as bases da homeopatia e apresenta os principais marcos da sua história no Brasil, como a aproximação com o espiritismo kardecista, o papel de generais no reconhecimento da homeopatia como especialidade médica e as estratégias usadas para preservar a legitimidade da prática e o mercado de seus profissionais.
O autor lembra que muitos médicos são considerados frios e impessoais por seus pacientes e que os riscos dos tratamentos podem assustá-los, o que contrasta com a imagem da homeopatia, associada a médicos acolhedores e remédios naturais.
Para ele, no entanto, isso não é suficiente para legitimar a doutrina homeopática. A atenção ao paciente deveria existir na medicina toda e se submeter a uma especialidade que não oferece tratamentos eficazes traz riscos, diz Bicudo.
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Já participaram do Ilustríssima Conversa Juliana Dal Piva, jornalista que escreveu sobre o assassinato de Rubens Paiva, Marta Góes e Tato Coutinho, autores de biografia do físico Cesar Lattes, Rafael Alves Lima, que discutiu o boom da psicanálise durante a ditadura militar, Ernesto Rodrigues, autor de trilogia sobre a história da Globo, André Roncaglia, para quem o agronegócio e bets estão transformando a economia brasileira em “fazendão com cassino”, Tiago Rogero, criador do projeto Querino, Jessé Souza, autor de livro sobre o voto de eleitores pobres, Ronilso Pacheco, teólogo que analisa o uso da gramática religiosa pela extrema direita, Marcelo Viana, diretor-geral do Impa (Instituto de Matemática Pura e Aplicada), Ligia Diniz, autora de obra sobre as representações da masculinidade na ficção, entre outros convidados.
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