Conectar o mercado financeiro com negócios na Amazônia pode ser tão complexo quanto transpor as enormes distâncias desse território. Mas uma organização encampou essa missão há cinco anos com a proposta de desenvolver uma economia que preserva a floresta e gera renda para as pessoas.
Criada em 2021 pelo Idesam (Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia), a Amaz (Aceleradora de Impacto da Amazônia) investiu R$ 4 milhões e alavancou outros R$ 38,5 milhões com co-investidores em apoio a empreendedores locais nesse período.
Para isso, criou um fundo de financiamento híbrido, que mescla capital de risco com filantropia, para acelerar iniciativas em estágios iniciais.
Um dos negócios que receberam recursos e foram acelerados pela Amaz é a Manioca, empresa criada em 2014 por Joanna Martins, filha do chef paraense Paulo Martins, que elevou a gastronomia regional ao usar ingredientes da floresta nos preparos.
Outro é a Zeno Nativo, do ribeirinho Zeno Gemaque, que desde 2012 comercializa de maneira sustentável cacau nativo e castanha do Brasil na comunidade Acara-açu, a 40 km de Belém.
Os 41 negócios do portfólio da Amaz —28 pré-acelerados e 13 investidos e acelerados— têm em comum o impacto socioambiental positivo e fundadores com histórias genuínas de conexão com a Amazônia.
“Sou filho de agricultores extrativistas, tenho 12 irmãos. Os ribeirinhos têm muitas necessidades e, às vezes, cedem à pressão da pecuária, da soja, da palma, monoculturas que derrubam a floresta e poluem os igarapés”, diz Gemaque.
“Precisamos apontar novos caminhos e alternativas de renda para quem cuida da floresta”, acrescenta ele, que fundou a empresa com R$ 2.500. “Demos uma boa ajeitada com o recurso da Amaz [R$ 400 mil] e hoje envolvemos 250 famílias na produção.”
A Manioca ajuda a promover o comércio justo com produtores, comunidades e cozinheiros que são a base da culinária paraense. Para isso, compra ingredientes amazônicos de agricultura familiar para desenvolver produtos como temperos, molhos, farofas e feijão.
“Negócios como a Manioca geram empregos e retém a população no território, principalmente jovens, que não encontram empregos qualificados. É uma prova de que é possível ter desenvolvimento sem destruir a floresta”, afirma Joanna Martins, CEO da empresa.
“Só nos reconhecemos como negócio de impacto quando participamos do programa de aceleração da Amaz, em 2018. O capital da aceleradora [R$ 450 mil] nos ajudou a estruturar a cadeia produtiva em uma região de baixa profissionalização”, completa ela.
Em outubro, um evento realizado por Idesam e Impact Hub em Manaus (AM) mostrou que a Faria Lima [avenida que concentra o mercado financeiro em São Paulo] ainda está distante e despreparada para investir em negócios amazônicos, que demandam capital paciente.
Em cinco anos, o apoio da Amaz nos pequenos negócios contribuiu para a conservação e restauração de quase 450 mil hectares de floresta nativa.
“É um movimento para transformar a Amazônia em um polo de desenvolvimento sustentável, conectando o terceiro setor e o mercado privado para alavancar soluções econômicas que mantêm a floresta em pé”, afirma Gabriela Souza, coordenadora da Amaz.
Uma das metas da aceleradora é colocar no mercado um segundo fundo de financiamento para negócios que promovam a conservação ambiental, a restauração de florestas e a geração de renda em ritmo acelerado, acompanhando as demandas urgentes da região.
“Estamos ampliando nossa ambição para que, até 2030, possamos não apenas apoiar mais negócios, mas estruturar um ecossistema robusto que atraia mais investidores e acelere soluções sustentáveis na Amazônia”, afirma Mariano Cenamo, CEO da Amaz.