Amigos ajudam uns aos outros. O chefe da Tesla, Elon Musk, pode muito bem ter ficado agradecido quando Donald Trump disse que compraria um de seus veículos elétricos na última terça-feira (11). No entanto, isso foi o mínimo que o presidente poderia fazer pelo principal crítico da burocracia.
No dia anterior, Trump havia contribuído para uma queda de mais de 15% no preço das ações da Tesla, em meio a uma venda generalizada provocada por suas políticas comerciais e seu aviso de que a economia americana enfrentava um “período de transição”. O subsequente endosso do republicano à montadora não será suficiente para frear as vendas em declínio da Tesla e a queda no preço das ações.
O apoio de Musk na disputa presidencial parecia uma jogada inteligente de negócios. Sua recompensa foi dirigir o DOGE (Departamento de Eficiência Governamental), impulsionando o que o banco Barclays chama de “prêmio Elon”. Os investidores claramente pensaram que sua influência política faria bem à Tesla, cujo valor de mercado atingiu um recorde de US$ 1,5 trilhão (R$ 8,62 trilhões) em dezembro.
Desde então, sua proximidade com Trump e apoio a causas de extrema-direita provocaram uma reação negativa. Protestos contra a participação de Musk no governo e as demissões em massa de funcionários públicos pelo DOGE ganharam força nos Estados Unidos. Piquetes em concessionárias da Tesla tornaram-se violentos, com janelas quebradas e veículos vandalizados; uma estação de carregamento da fabricante foi atacada e incendiada.
Fora dos Estados Unidos, as ações de Musk também provocaram protestos contra a montadora. Dono e marca estão tão entrelaçados que proprietários envergonhados de Teslas estão recorrendo a adesivos anti-Musk para se distanciarem dele.
Mas a política de Musk explica apenas parcialmente os problemas da Tesla. As vendas estavam caindo antes de ele atacar o setor público dos EUA. No ano passado, a empresa abandonou uma meta de longa data de fabricar 20 milhões de carros anualmente até 2030 e relatou seu primeiro declínio nas vendas anuais em muito tempo —uma queda de 1%, para 1,79 milhão de carros.
As vendas continuaram a cair nos últimos meses em comparação com o ano anterior, em um momento em que o mercado de carros elétricos como um todo ainda está crescendo. O Barclays estima que as vendas do primeiro trimestre na Europa possam cair cerca de 30%. Na Alemanha, onde Musk causou alvoroço ao apoiar um partido de extrema-direita nas recentes eleições, as vendas caíram 76% em fevereiro na comparação anual.
No entanto, o Barclays acredita que as vendas do primeiro trimestre nos Estados Unidos, onde a antipatia por Musk parece maior, serão estáveis. Na China, houve uma queda de quase 14% em janeiro e fevereiro, mas uma reação política é uma explicação improvável; Musk é geralmente considerado pró-China. No Reino Unido, onde sua interferência política deveria ser um fator, as vendas da Tesla na verdade aumentaram quase 21% em fevereiro.
Isso sugere que a reação dos consumidores que não gostam das atitudes de Musk é apenas uma das razões para a queda nas vendas. Um modelo atualizado do Model Y, o veículo mais vendido da Tesla, acabou de ser lançado. Em preparação, a montadora reduziu o estoque do modelo antigo, limitando a oferta. Os clientes, sem dúvida, adiaram as compras até que o novo carro estivesse disponível.
O maior problema é que a Tesla se tornou uma “montadora relutante”, como qualificou Philippe Houchois, do banco de investimentos Jefferies. A maioria de suas vendas está restrita a dois modelos, o 3 e o Y, enquanto gigantes globais como a Toyota diversificam para satisfazer todas as partes do mercado.
Em outubro de 2024, Musk decidiu não lançar um “Modelo 2” mais barato, optando por focar em robotáxis e robôs humanoides. Enquanto isso, a concorrência de montadoras estabelecidas e novos concorrentes chineses estava aumentando.
A avaliação da Tesla há muito perdeu qualquer conexão com os fundamentos, sendo mais uma aposta na capacidade de Musk de revolucionar qualquer negócio em que ele se envolva. Agora, ele afirma que robotáxis e robôs farão da Tesla “de longe a empresa mais valiosa do mundo”.
Isso sugere outra explicação para a queda no preço das ações da Tesla: Musk se espalhando cada vez mais. Em uma entrevista à Fox News em 10 de março, ele observou a “grande dificuldade” que enfrentava ao administrar a Tesla e suas outras empresas enquanto trabalhava para o governo. Enquanto Trump inspecionava sua potencial nova compra fora da Casa Branca, ele repreendeu os manifestantes por “prejudicarem uma grande empresa americana”. No entanto, grande parte da culpa por isso recai sobre seu amigo, Musk.
Texto de The Economist, traduzido por Fernando Narazaki, publicado sob licença. O artigo original, em inglês, pode ser encontrado em www.economist.com