17 mar 2025, seg

Epidemia de gênero – 16/03/2025 – Ana Cristina Rosa

Uma epidemia de gênero vem vitimando a população feminina do Brasil. O problema é muito sério e tem se agravado a cada ano, fazendo da violência contra a mulher uma das violações de direitos humanos mais recorrentes.

Mais de 21 milhões de brasileiras sofreram alguma agressão nos últimos 12 meses (Datafolha). O número representa 37,5% das nossas meninas e mulheres, segundo a pesquisa “Visível e Invisível: a Vitimização de Mulheres no Brasil”, encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

O “menu” de agressões detectadas inclui chutes, socos, empurrões, xingamentos, perseguição, relações sexuais forçadas, estrangulamento, esfaqueamento, tiros e, nos casos mais extremos, a morte. Em grande parte dos casos, a violência se dá dentro de casa, pelas mãos de maridos, companheiros, namorados, pais, tios e até filhos.

A situação é complexa, pois envolve uma gama de fatores econômicos, sociais e ambientais que podem servir para encorajar um homem a tratar violentamente uma mulher. Nunca é demais lembrar que as negras são as maiores vítimas desse tipo de violência. Particularmente, creio que a má educação e os costumes machistas sejam os elementos mais impactantes numa sociedade misógina e racista. Há, também, razões históricas.

Até bem pouco tempo atrás, as mulheres eram submetidas a restrições que as mantinham legalmente sob o jugo masculino, como a necessidade de autorização do marido para trabalhar ou para frequentar a universidade. A igualdade de gênero no Brasil foi assegurada só em 1988, com a promulgação da Constituição. E, ainda assim, na prática temos apenas uma igualdade formal.

Num cenário de objetificação dos corpos femininos, o papel reservado à mulher na sociedade brasileira foi sintetizado com muita propriedade pela filósofa Lélia Gonzalez, que resumiu assim: “branca para casar, mulata para fornicar, negra para trabalhar.” Os dados sobre a violência contra a mulher sugerem que, na cabeça de muitos homens, está também a ideia “todas passíveis de violentar”. Aterrorizante.


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