15 mar 2025, sáb

Antes, o maior risco era ficar desidratado, hoje é ser gratinado – 27/01/2025 – Ilustrada

“Vem chegando o verão, muito amor no coração”, o antigo hit, claro, de verão, há muitas primaveras, pelo menos em algumas latitudes, já não faz mais sentido.

No “Hell” de Janeiro, por exemplo, o amor acabou faz tempo. O verão não vem mais só pra bronzear, fazer marquinha em “todas de bundinha de fora”, agora ele vem para a briga. E vem para ganhar.

Os cientistas nos garantem que a culpa é do “aquecimento global”, quer dizer, a culpa é nossa por não dar conta, ou olhar para o lado e fingir que ele não existe. O certo é que se o “aquecimento global” ainda é polêmico para alguns recalcitrantes, o “escaldamento local” já é uma realidade.

Hoje em dia, e a cada ano só piora, a pessoa não apenas sua, ela chove. O calor não vem só em graus, ele pesa, como um bicho grande e invisível que te faz arquear os ombros, sentir aquele bafão na nuca, nas orelhas, em todo corpo, num tipo de sussurro inaudível, mas intimidador.

O verão agora te desafia, te chama para as vias de fato: “vem encarar se acha que pode comigo”. E quem pode? Atualmente, manter a sanidade sem ar condicionado, ou sem estar dentro de algo gelado é praticamente impossível. Antes, o maior risco era ficar desidratado; hoje é ser gratinado. Antes, nos dias de temperaturas extremas era possível fritar um ovo na calçada, hoje você é quem pururuca.

Diante disso, só tem uma solução: correr para a praia. E é o que todo mundo faz. Todo mundo mesmo! As praias superlotam, os engarrafamentos se agigantam, a densidade por metro quadrado atinge níveis inimagináveis, pessoas e barracas se acotovelam e, óbvio, as inevitáveis caixinhas de som proliferam e vociferam. Uma experiência que tem até um cunho transcendental e filosófico, afinal porque temer ir para o inferno após a morte, se você já tem a oportunidade de experimentá-lo em vida? A danação eterna seria estar preso num lugar extremamente quente, torturante e insuportável. Soa familiar?

Se a ciência nos alerta e responsabiliza pelo aquecimento planetário, ela também tem sua parcela de culpa para o drama de cada um estar mais acalorado. Por que foram inventar essa tal de sensação tétrica… quer dizer, térmica?

Depois que criaram esse troço, tudo ficou ainda mais infernal. A coisa já estava ruim quando você sofria a 40 °C , mas aí descobre que, além da temperatura, tem a tal “sensação”, que nunca é para baixo. Sempre vem alardeando mais. Ou seja, a sensação, além de não ser pessoal —não importa se você é “friorento” ou o oposto— tem uma certa vocação “sensacionalista”.

Mas é certo que isso é burrice minha. Os cientistas trabalharam muito nisso e sabem o que estão falando. E o que eles dizem?

Para dias quentes, combinando calor e umidade, utiliza-se normalmente a fórmula do Heat Index, Índice de Calor, que define a “sensação térmica” em condições de calor. Em dias de frio a conta é outra.

É uma estimativa de como o corpo humano “percebe” a temperatura quando a umidade do ar está alta. Ele leva em conta que, em ambientes quentes e úmidos, a evaporação do suor é reduzida, dificultando o resfriamento natural do corpo e aumentando a sensação de calor.

A fórmula para calcular isso é apenas essa: HI = -8.784695 + 1.61139411·T + 2.338549·RH – 0.14611605·T·RH – 0.012308094·T² – 0.016424828·RH² + 0.002211732·T²·RH + 0.00072546·T·RH² – 0.000003582·T²·RH². Onde T = Temperatura do ar em °C e RH = Umidader elativa (%). O resultado (HI) indica a temperatura em °C que o corpo “sente” devido à combinação de calor e umidade.

A vantagem é que, ao desistir de entender tudo isso e decidir mandar tudo para o inferno, nada é mais fácil. Você já está nele.

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