Está fracassando a linha de reação de Jair Bolsonaro (PL) ao cerco judicial que se fecha sobre ele. Apostou numa mobilização popular que pudesse intimidar o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal (STF), prestes a julgar a denúncia que o acusa de chefiar uma tentativa de golpe de Estado.
Segundo estimativa do Datafolha, cerca de 30 mil pessoas estiveram no ato de domingo (16), promovido no Rio para defender anistia aos condenados pelos ataques de 8 de janeiro de 2023 —e, nem tão implicitamente, ao próprio ex-mandatário.
O baixo entusiasmo pelas proclamações de Copacabana talvez reflita o ruído da mensagem do líder direitista. Bolsonaro mal disfarça que seu maior desejo é livrar-se ele próprio da cadeia, mas por que queimar etapas e exigir anistia política se o seu processo judicial nem sequer começou?
Outra fragilidade do ex-presidente é portar-se como candidato tendo contra si a inelegibilidade decretada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Quando nem seus mais fiéis aliados acreditam que Jair Bolsonaro estará na cédula em 2026, suas pregações em contrário caem no vazio.
As marchas bolsonaristas convertem-se, assim, numa missão sem propósito factível. Não servem para mobilizar a oposição rumo às eleições do ano que vem, pois carecem de hipóteses realistas sobre quem poderá se candidatar, nem serão capazes de exercer pressão política sobre legisladores e julgadores.
Além disso, a defesa técnica de Bolsonaro no Supremo acaba prejudicada pelo seu ativismo. Já não seria fácil, em condições normais, contraditar a denúncia oferecida pela Procuradoria-Geral da República (PGR), tanto menos com o acusado incitando parlamentares a anular os efeitos de decisões do tribunal constitucional.
Bolsonaro teria toda a legitimidade para dedicar-se exclusivamente à política partidária como o maior líder da oposição —com chances ponderáveis de eleger-se de novo presidente— caso tivesse seguido as boas práticas na disputa eleitoral de 2022.
Bastava que se abstivesse de discursos e articulações subversivas antes e depois de ser derrotado nas urnas. Porque decidiu seguir outro caminho, o da radicalização e do flerte com soluções autoritárias, seu caso se tornou judicial, deixando de ser político.
Sua melhor possibilidade doravante é tentar convencer a maioria dos ministros, que começam a julgar a denúncia no próximo dia 25, de que as acusações da Procuradoria são infundadas e as provas colhidas no processo são insuficientes para condená-lo pelos crimes contra a democracia.
Sobre os julgadores, espera-se que se mantenham equidistantes de acusação e defesa, adotem todos os procedimentos garantidores do amplo contraditório e do devido processo legal e formem seu juízo em bases estritamente técnicas. Um processo impecável, a despeito do seu desfecho, terá sido o maior legado do tributal constitucional nesse caso.
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