O governo Donald Trump, por meio da embaixada em Brasília e órgãos em Washington, tem silenciado sobre as acusações de deportados brasileiros contra agentes de imigração americanos no voo que saiu dos Estados Unidos na sexta-feira (24) e foi completado com ajuda da FAB (Força Aérea Brasileira) no sábado (25).
Procurada pela Folha diversas vezes desde que a situação dos migrantes brasileiros veio à tona, a embaixada dos EUA no Brasil limitou-se a dizer, no sábado, que estava em contato com autoridades do país e que os deportados já estavam sob custódia do governo Lula (PT). Depois, informou que não se pronunciaria sobre as acusações.
Os migrantes brasileiros relataram agressões, humilhações, separação de famílias e tratamento degradante no voo que partiu de Alexandria, no estado da Virgínia, e pousou em Manaus após parada no Panamá por conta de uma falha técnica.
A Folha também procurou o Departamento de Estado, equivalente ao Ministério das Relações Exteriores nos EUA, e o ICE (Serviço de Imigração e Controle de Alfândega, na sigla em inglês), principal órgão responsável por deportações, mas não obteve resposta.
Desembarcando na noite de sábado no Aeroporto Internacional de Confins após serem soltos pela Polícia Federal, os deportados brasileiros disseram ter ficado 50 horas algemados, sem ar condicionado no voo e sujeitos a abusos dos americanos.
Segundo o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, o governo Lula determinou a retirada das algemas dos brasileiros assim que foi informado da situação pela PF. O ministro falou em “flagrante desrespeito” dos direitos dos brasileiros. O Planalto também enviou um avião da FAB para fazer o transporte dos migrantes até Confins, destino final do voo original.
Nesta segunda-feira (27), Lewandowski chamou de inadmissível a situação de brasileiros deportados e classificou a reação do governo brasileira de sóbria. “Não queremos provocar o governo americano até porque a deportação está prevista num tratado que já vige há vários anos. Mas obviamente tem de ser feita com respeito aos direitos fundamentais das pessoas”, afirmou o ministro em evento em São Paulo.
O Itamaraty disse no sábado que “o uso indiscriminado de algemas e correntes” viola os termos do acordo entre EUA e Brasil sobre deportações. Entretanto, como a Folha mostrou, esse uso foi frequente em voos com migrantes brasileiros durante o governo Joe Biden.
O caso dos brasileiros deportados acontece dias após o início do novo mandato de Trump. No dia que voltou ao cargo, o presidente americano disse que os EUA não precisam do Brasil ou da América Latina. “Eles precisam muito mais de nós do que nós precisamos deles. Na verdade, não precisamos deles, e o mundo todo precisa de nós”, afirmou.