21 mar 2025, sex

Olimpíada: Candidato defende neutralidade dos Jogos – 19/03/2025 – Esporte

Johan Eliasch, 63, é presidente da Federação Internacional de Esqui e Snowboard. Seu currículo é extenso, assim como sua fortuna pessoal, estimada em US$ 5 bilhões. Vai do comando da marca esportiva Head à ONG ambientalista Cool Earth, passando por áreas preservadas da Amazônia, que lhe renderam uma investigação no Brasil, produções de cinema e patentes de telefonia celular.

Em entrevista à Folha, Eliasch, que nasceu na Suécia mas também tem cidadania britânica, defende uma profissionalização ainda mais radical dos Jogos Olímpicos se for eleito presidente do COI (Comitê Olímpico Internacional). Reconhece ainda que a neutralidade dos Jogos está em risco no atual estágio de polarização do planeta.

Qual é o maior desafio do Movimento Olímpico atualmente?

Eu diria que há três desafios centrais. Primeiro, as divisões que marcam nosso mundo. Em uma época turbulenta, haverá pressão para que o Movimento Olímpico escolha um lado ou faça comentários políticos. No entanto, é essencial que os Jogos permaneçam em um espaço neutro que transcenda as diferenças e divisões do nosso mundo. O segundo desafio é o mundo da mídia em rápida mudança em que estamos operando: digitalização, IA, conteúdo personalizado, ascensão da narrativa e serviços de streaming. Temos que estar à frente de tudo isso para reter e atrair públicos mais jovens. Por último, mas não menos importante, o desafio da mudança climática. O clima imprevisível e extremo é uma ameaça muito real aos Jogos. Temos que ser ousados, práticos e de alto nível em nossas ações sobre o clima, e esse será o foco central da minha presidência. É importante observar que, com todos esses desafios, surgem oportunidades: unir o mundo, atrair novos públicos e dar um exemplo brilhante de sustentabilidade. É por isso que olho para o futuro com grande otimismo.

Como a neutralidade política dos Jogos pode ser mantida diante de discussões politicamente carregadas, como a dos atletas transgêneros e o banimento de atletas de determinados países?

A neutralidade política pode ser mantida se formos muito claros quanto à nossa posição, e eu sou claro em relação a essas duas questões. No debate sobre os atletas transgêneros, tenho certeza absoluta de que os esportes femininos devem ser protegidos —sem “se” ou “mas”. Para garantir a justiça para todos, precisamos ser guiados não por tendências ou ideologias, mas por fatos biológicos. O COI deve dar o exemplo, estabelecendo diretrizes claras e simples para proporcionar um ambiente justo e seguro para todos os atletas, especialmente para as mulheres. Devemos nos lembrar do que está em jogo: a integridade e até mesmo a sobrevivência dos esportes femininos. A opinião pública e as tendências não devem ter precedência sobre a imparcialidade e a segurança das competições femininas.

Quanto à proibição de atletas de determinados países, ninguém pode escolher seu local de nascimento. Seria altamente discriminatório negar a um atleta a chance de competir com base em seu passaporte. O programa de Paris-2024 para atletas individuais neutros foi bem-sucedido com russos e bielorrussos; devemos nos basear nele, permitindo que mais atletas neutros participem dos Jogos. O passaporte de um atleta não deve impedi-lo de perseguir seus sonhos. No fim das contas, o esporte é um direito humano.

O que um fã dos Jogos Olímpicos poderia esperar do seu mandato à frente do COI nos próximos anos?

Esportes mais emocionantes, apresentados de maneiras mais atraentes. Eu procuraria maneiras de estender o entretenimento olímpico e paraolímpico e a nossa marca para além do modelo de duas semanas a cada dois anos. E, como presidente, supervisionaria um grande impulso na digitalização. Em Paris-2024, 40 bilhões de horas de conteúdo foram assistidas somente no YouTube. É onde o público está. Portanto, no futuro, precisamos que muito mais do nosso conteúdo seja apresentado da maneira que as gerações mais jovens desejam: destaques, narração de histórias, streaming e assim por diante.

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