Nas 64 mil páginas de documentos divulgados nesta semana sobre o assassinato do presidente John F. Kennedy em 1963, não havia tarjas pretas ocultando informações sensíveis, mesmo após a liberação dos arquivos ao público.
Críticos afirmaram que essa falha mostrou a pressa do FBI, a polícia federal americana, em revisar os documentos exigidos pelo presidente Donald Trump. Isso resultou na exposição do arquivo completo de um agente da CIA e dos números do Seguro Social (espécie de CPF americano) de centenas de pessoas.
Membros da equipe do Congresso, pesquisadores de inteligência, um ex-embaixador e outros tantos tiveram suas informações pessoais tornadas públicas. Muitos deles ainda estão vivos e descobriram na quarta-feira (19) que a Casa Branca havia vazado seus dados para o mundo.
Os apoiadores de Trump elogiaram a divulgação dos documentos como transparência governamental. Mas não foi assim que William A. Harnage, ex-contratado do governo, disse que se sentiu quando soube de um repórter que seu número do Seguro Social havia surgido em um arquivo de 1977. “Considero quase criminoso”, disse Harnage, 71.
Os funcionários do governo sabiam antes da divulgação dos documentos que liberá-los sem qualquer edição ou censura (como uma tarja preta) significaria que algumas informações pessoais seriam expostas, de acordo com uma pessoa com conhecimento do esforço para discutir as deliberações, que falou na condição de anonimato. A Casa Branca não respondeu a um pedido de comentário.
Era quase inevitável. Membros da equipe de segurança nacional de Trump ficaram surpresos com seu anúncio abrupto, feito na segunda-feira (17) durante visita ao Kennedy Center, em Washington, de que ele divulgaria o que disse ser 80 mil documentos no dia seguinte.
Embora estivessem preparando os registros desde que Trump assinou um decreto logo após sua posse exigindo sua divulgação, seu anúncio desencadeou uma corrida de funcionários que foram forçados a examinar os documentos por horas, tentando avaliar os riscos.
Tulsi Gabbard, diretora de Inteligência Nacional, defendeu as páginas intocadas. “O presidente Trump está inaugurando uma nova era de máxima transparência”, escreveu em uma postagem na rede social X na terça-feira (18). “Hoje, por sua direção, os Arquivos do Assassinato de JFK previamente censurados estão sendo divulgados ao público sem censura”, disse. “Promessas feitas, promessas cumpridas.”
O próprio presidente Trump já havia pouco interesse no conteúdo dos arquivos, dizendo ao The New York Times em setembro de 2021 que não estava “tão curioso” sobre os papéis.
Ele considerou divulgar os arquivos de Kennedy durante seu primeiro mandato. “A razão pela qual fiz isso foi porque achei apropriado”, disse. “Quando você tem algo tão sagradamente secreto, realmente soa muito mal. Acho que talvez tenham acertado, provavelmente acertaram. Deixe as pessoas examinarem.”
Não é assim que Judy K. Barga, que apoia o presidente, vê. O vazamento de seus dados pessoais “não é bom para ninguém”. Aos 80 anos, ela é contratada do governo e teve seu número do Seguro Social exposto. “As informações privadas das pessoas devem ser mantidas em sigilo.”