22 mar 2025, sáb

Datafolha: 74% deixariam carne por saúde – 21/03/2025 – Equilíbrio e Saúde

Uma pesquisa Datafolha, encomendada pela Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB) com 2.006 pessoas em todo o Brasil, aponta que 74% dos entrevistados pararia de comer carne pela saúde. Os outros motivos envolvem o meio ambiente (43%) e a causa animal (42%). Dos participantes, 7% se consideram totalmente ou parcialmente veganos.

A ideia de que aderir uma dieta vegana traz benefícios para a saúde está ligada à imagem de um alto consumo de vegetais, frutas, verduras e legumes. Para a nutricionista Alessandra Luglio, diretora do departamento de saúde e nutrição da SVB, esse benefício nunca foi contrariado.

“Esse é o ponto que está levando as pessoas a cada vez mais olharem para si e para a saúde e deixarem de comer alimentos de origem animal”, comenta.

Seguindo os passos do pai, Isabela Castello, 53, sempre se interessou em assistir documentários e ler livros sobre saúde, mesmo não trabalhando na área. Com a tradição familiar de comer picanha todos os sábados, nunca tinha passado pela cabeça da artista visual parar de comer carne.

Foi um livro de desintoxicação, que propunha a redução de proteína animal, que abriu os olhos para o veganismo. “Nesse período, senti uma energia impressionante.” Depois de já ter passado por essa experiência temporária, o famoso —e polêmico— documentário “What the Health” foi o ponto decisivo para a mudança completa de comportamento para o vegetarianismo e para o aprofundamento na pesquisa sobre o veganismo. Faz nove anos que Isabela tomou essa decisão e não pensa em voltar atrás.

O que preocupa as pessoas que refletem em se tornarem veganas —ou apenas olham de fora— é se estarão consumindo todos os nutrientes necessários, principalmente as proteínas. Os especialistas tranquilizam.

“Quando você faz uma alimentação vegana, baseada em plantas, de forma natural e integral, ela é muito saudável”, afirma o nutrólogo Erick Slywitch. Uma dieta vegana bem orientada é rica em fibras, minerais, antioxidantes e é baixa em gorduras, principalmente as saturadas.

Mas isso não significa que toda alimentação vegetariana estrita está relacionada à saúde. “Se a sua dieta vegana tem tudo industrializado, ultraprocessado, você vai ter um efeito ruim”, fala o médico.

A nutricionista explica que é a mesma premissa que vale também para as pessoas onívoras, ou seja, que comem alimentos derivados de animais. Em um prato de arroz, feijão, bife e batata frita, trocar o bife animal por um industrializado vegetal não vai fazer seu prato ser mais saudável.

Claro que comer alimentos ultraprocessados pode ser permitido, mas com uma frequência mais baixa. “São alimentos que comemos por diversão, não por nutrição”, fala Alessandra.

A preocupação maior que as pessoas que optam por essa alimentação devem ter é com a suplementação da vitamina B12. Essa vitamina é naturalmente encontrada no solo e digerida por alguns animais, então não pode ser encontrada nas plantas.

Além disso, é importante ficar atento aos níveis de cálcio e também outras suplementações em fases específicas da vida, como gestação, amamentação e na primeira infância.

Em relação às proteínas, as leguminosas —grão de bico, lentilha, feijões, soja— são a principal fonte de proteína vegetal. E é possível você ter toda a proteína necessária para o seu corpo mesmo sem consumir carnes, leites e ovos.

“Não há nenhum benefício em uma dieta hiperproteica”, lembra Erick. “Temos que consumir a quantidade de proteínas necessárias para o nosso corpo.”

Segundo o nutrólogo, uma pessoa geralmente precisa de 0,8 g de proteína por kg, mas esse número pode acabar subindo para 1,3 g em pessoas que praticam atividades físicas de alta intensidade. “Se você não conseguir atingir essa quantidade, existem também suplementos de proteína em pó de origem vegetal.”

Outro dado interessante da pesquisa é que 22% das pessoas alegaram já terem tentado parar de comer carne. A presidente da SVB, Mônica Buava, diz que o principal fator tende a ser o social.

“Quando a gente fala de social, pode ser a pressão social da família, ou tem poucos amigos, então ela fica sem uma rede de apoio.” Sair para comer em restaurantes ou aniversários também pode ser um desafio para essas pessoas.

A bióloga Bárbara, 35, estava no processo seletivo para o doutorado e vivendo momentos pessoais de muito estresse quando parou para refletir sobre sua alimentação. Ela, que sempre estudou sobre os benefícios das frutas, não comia tantas assim. “Todas aquelas informações começaram a não fazer sentido se eu não aplicava aquilo na minha vida.”

Ela relata que se sentiu muito bem durante os quatro meses que seguiu essa ideologia, além de ter emagrecido 15 kg. Apesar de se sentir bem, o impacto social foi grande. “As pessoas olhavam para mim e falavam que eu estava mal por estar muito magra e que eu não me alimentava direito.”

Ela voltou a inserir aos poucos outros alimentos em sua dieta, como frutos do mar, leite e ovos até que conheceu seu companheiro Caio, que é vegano. “Ele me ensinou tudo, principalmente a entender que o que me faltava era apoio e orientação.”

A nutricionista Alessandra Luglio diz que é mais fácil alguém que só aderiu a dieta vegana pela saúde abandoná-la do que alguém que compreende o compromisso com a causa animal e o meio ambiente.

Depois de cinco anos no veganismo, hoje Bárbara também entende da filosofia e dos fundamentos do veganismo. “Eu ainda acho que isso me traz saúde. Mas hoje eu acho que para você conseguir encarar as dificuldades sociais, a consciência da causa animal é a prioridade.”

Mônica Buava, presidente da SVB, enfatiza que um dos projetos da sociedade é trabalhar no setor de saúde para conscientizar não só os profissionais, mas também as instituições de ensino para que coloquem nas grades dos cursos de saúde disciplinas sobre alimentação vegetariana.

Outras ações divulgadas pela sociedade e que visam conscientizar a população é o projeto Segunda Sem Carne —que tem como embaixador mundial o ex-beatle Paul McCartney— e a avaliação de produtos para a inclusão do selo vegano. “Para facilitar o acesso e aumentar a conveniência para quem procura alimentos sem nada de origem animal.”

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