Não houve chuva nem atraso que fizessem o torcedor santista arredar pé da Vila Belmiro e adjacências.
O príncipe Neymar foi recebido como rei e perdoado na volta pela traição cometida na saída.
E ai de quem se atreva a levantar dúvidas sobre como será o desempenho dele no papel de salvador de pátria por mais que, registre-se, Neymar tenha rejeitado tal papel ao lembrar se tratar de esporte coletivo.
Críticas a Neymar são atribuídas à inveja do crítico, argumento raso de quem atribui ao próximo os próprios recalques.
Ou a motivos políticos, outra asneira.
Quem rejeitou a opinião de Neymar sobre ser capaz de substituir Rivaldo na Copa do Mundo do pentacampeonato na Ásia, em 2002, acabou acusado de tê-lo feito porque Neymar é bolsonarista.
Ora, Rivaldo é tão adepto do fã de torturador como Neymar.
Fosse o agora camisa 10 santista mal visto apenas por votar em quem vota e não teria sido recepcionado por artistas como Mano Brown e Supla, insuspeitos eleitores de Lula.
Brown chegou a dizer um dia que se Neymar voltasse seria como “Jesus voltando”, e o abraço ensopado entre os dois no gramado da Vila Belmiro expulsa de campo qualquer dúvida sobre a relação que mantém.
Já o filho dos petistas Marta e Eduardo Suplicy cantou o clássico “Imagine”, de John Lennon, para recepcionar o craque e não deixar dúvidas: “Acima de nós apenas o céu”.
O Jesus citado por Brown estava na faixa que Neymar trazia na testa e a mistura da paixão pelo futebol com a religião e a política estava ali, inteira, insuspeita, escancarada.
A Torre Eiffel que o recebeu em azul, branco e vermelho, oito anos atrás esfuziante de esperanças, não se manifestou em Santos, porque mora em Paris, mas certamente tem motivos para também ser cética sobre o futuro do jogador, dada a decepção causada pelo passado no PSG e no Al-Hilal.
Só Neymar, jogando bola, poderá calar os críticos e dar razão aos que cegos pela paixão deixam de ver o óbvio.
Do ponto de vista de marketing o sucesso está mais que inicialmente garantido por todos os efeitos já demonstrados no aumento de número de sócios e na venda de camisas 10.
Faltam os gols que nem Jesus, nem Lula, nem Bolsonaro são capazes de fazer.
Só Neymar.
NOVO PACAEMBU
Começou mal, muito mal, a história do novo Pacaembu.
No primeiro jogo da reabertura do estádio uma enchente no gramado impediu o segundo — e a decisão da Taça das Favelas se limitou ao futebol das mulheres, porque o jogo dos homens não pôde ser disputado.
No primeiro clássico, entre Portuguesa e São Paulo, apagão dos refletores paralisou o jogo por sete minutos.
Ou seja, a modernização prometida pela concessão resultou em gramado artificial, piscina no lugar do campo de futebol e falta de luz em jogo noturno.
Não bastasse, o valente dono do espaço até 2054, e CEO da Allegra, faixa preta de jiu-jitsu, Eduardo Barella, tentou dar um soco no jornalista Demétrio Vecchioli desta Folha.
Em resumo: o que era o mais acolhedor de todos os estádios brasileiros passou a ser espaço tóxico em que a imprensa crítica pode ser recebida a socos e pontapés por parte do anfitrião.
Melhor passar ao largo.