Nesta quarta-feira (26) as leitoras integrantes da comunidade Todas no WhatsApp participaram de encontro virtual com Vera Iaconelli, psicanalista e colunista da Folha. O debate se deu após a leitura coletiva de “Felicidade Ordinária”, em que a autora reúne textos pensados a partir da premissa de que o sofrimento ordinário é permeado pela felicidade comum e esporádica.
Um dos temas abordados pela psicanalista na obra é a educação brasileira. Os professores enfrentam dificuldades nas relações com as famílias, diz a professora de História Lina Maria de Freitas. Para ela, os pais hoje se voltam contra os docentes. “Vivemos em um momento em que a escola virou ‘curva de rio’ dos problemas da nossa sociedade e há uma perseguição assustadora a professores. Muitas famílias se esquecem que a escola é feita pelo coletivo. Precisamos entender que além do letramento, como fazer palestras para instruir os pais sobre temas como sexualidade e racismo, é necessário dividir ‘causos’, promover encontros entre as pessoas para falar desses temas difíceis”, diz Vera.
A psicanalista reflete ainda sobre a ideia de educação positiva. “Educar não precisa ser violento mas, em alguma medida, é tolher. Educação sem inibição não existe. Crianças não tolhidas são eternos bebês –Donald Trump, Elon Musk, o filho do Elon Musk, que disse ao Trump para calar a boca… são pessoas que podem fazer o que quiserem”.
Morando no México há 30 anos, a economista Nymia Almeida diz que a leitura a ajudou a entender como os brasileiros veem a vida hoje. Ao grupo, ela levanta questionamentos sobre o uso de ferramentas de inteligência artificial, como o ChatGPT e cita uma experiência de seu filho. “Ele perguntou o que o ChatGPT sabia sobre ele que ele mesmo desconhecia.”
“Nada nos captura mais que esse espelho narcísico. A grande sacada dessas ferramentas é que atinge em cheio uma solidão tremenda que vivemos hoje, em parte pelas redes sociais”, diz Vera. Ela cita uma onda de movimentos offline como prática de resistência à submissão tecnológica.
Nesse sentido, ela vê a proibição de celulares nas escolas brasileiras como “um passo na direção correta” e reitera a importância de abrir o diálogo, especialmente com as crianças, sobre os conteúdos que consomem.
O acesso à saúde sempre começa pela elite, seja por meio de comidas naturais, seja pela restrição ao celular até determinada idade como forma de diminuir os impactos nocivos de seu uso, pondera a psicanalista Daniela Romero.
“A nossa cultura está apostando todas as fichas no narcisismo. Em especial nossas meninas são fixadas por uma realidade de filtros que usam no celular e, na vida real, não querem sair de casa ou procuram um cirurgião porque são capturadas por aquela imagem. Isso tem um impacto muito grande, pode levar à mutilação, ao suicídio, à anorexia. Precisamos ajudar os jovens a sair da captura da imagem”, finaliza Vera.
A leitura coletiva é uma iniciativa da Comunidade Todas, grupo permanente da iniciativa Todas no WhatsApp que conecta leitoras, assinantes ou não, entre si e com a Redação. Interessadas em participar dos próximos encontros de leitura e fazer parte da comunidade podem se inscrever por este formulário.
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