Cidadãos americanos estão fazendo muitas reservas para jantarem sozinhos. Essa foi uma das conclusões do WHR (World Happiness Report), que foi divulgado na quinta (21) e mostrou que os Estados Unidos caíram para a posição mais baixa no ranking de felicidade —24º— após terem ficado em 11º lugar em 2012, o primeiro ano do relatório.
Os americanos estão cada vez mais infelizes, diz o relatório. O levantamento explorou um possível indicador: o número de americanos que comem sozinhos aumentou exponencialmente neste século.
Em 2023, de acordo com dados da Pesquisa de Uso do Tempo dos Americanos do Bureau of Labor Statistics, cerca de um quarto dos americanos relataram ter comido todas as suas refeições sozinhos no dia anterior, um aumento de 53% desde 2003.
“A extensão em que você compartilha refeições é preditiva do apoio social que você tem, dos comportamentos pró-sociais que você exibe e da confiança que você tem nos outros”, disse Jan-Emmanuel De Neve, professor da Universidade de Oxford e autor do relatório.
Essa tendência é ainda mais nítida entre os jovens. Para adultos americanos com menos de 25 anos, houve um aumento de 80% em refeições solitárias, de acordo com uma análise encomendada pela empresa japonesa Ajinomoto. O professor De Neve chamou esses números de preocupantes.
A pesquisa sobre felicidade, compilada anualmente por um consórcio de grupos, incluindo o Gallup, traz outro ponto de dados sobre a chamada epidemia de solidão, que, segundo pesquisadores e autoridades, está se tornando uma preocupação maior nos últimos anos, principalmente entre os homens jovens, que passam cada vez mais tempo em seus celulares.
Comer sozinho também aumenta a polarização política, disse De Neve.
“O fato de estarmos cada vez mais socialmente isolados significa também que não estamos testando nossas ideias sobre o mundo com outras pessoas”, disse ele. “E quanto mais você se senta à mesa com outras pessoas que podem ter visões um pouco diferentes, mais você começa a moderar suas próprias visões. E a crescente falta de interação social e isolamento social como resultado, para muitos, torna as pessoas mais radicais.”
O relatório também aponta que a diminuição da felicidade e da confiança social nos EUA, e em partes da Europa, impulsionou uma série de vitórias “políticas antissistema”, como a eleição do presidente Donald Trump, e um aumento na polarização política. De acordo com o estudo, a parcela de americanos que confiam nos outros diminuiu quase pela metade desde a década de 1970, caindo de 50% para 30%.
“Eleitores de extrema esquerda têm um nível mais alto de confiança social, enquanto populistas de direita têm um nível muito baixo de confiança social”, diz o relatório.
Pelo oitavo ano consecutivo, a Finlândia ocupou o primeiro lugar no ranking. Claro, nem todos na Finlândia estão felizes com a pesquisa, que essencialmente pede aos cidadãos dos países que avaliem sua própria felicidade. O estudo considera os últimos três anos.
Na quinta-feira, durante uma discussão sobre o relatório em Washington, Leena-Kaisa Mikkola, embaixadora da Finlândia nos EUA, ofereceu várias teorias sobre por que os finlandeses têm sido tão felizes por tanto tempo. Elas incluíam confiança entre os cidadãos e no sistema educacional, proximidade com a natureza e “sessões semanais de sauna”.
“Nossos amigos americanos, vocês sorriem e riem muito mais do que nós”, disse Mikkola durante a discussão, que foi organizada pelo veículo de notícias digital Semafor. “Mas felicidade para nós é talvez estar contente.”
Em uma entrevista, Mikkola disse que a Finlândia tinha outras vantagens estruturais sobre os EUA, incluindo seu tamanho. “Em um país pequeno, há também talvez mais essa consciência de que precisamos uns dos outros”, disse ela. “Em um país maior, você pode de alguma forma se encurralar em diferentes cantos.”
Costa Rica (6º lugar) e México (10º) entraram no top 10 pela primeira vez, e outros países como Lituânia (16º, subindo do 19º) e Eslovênia (19º, subindo do 21º) continuaram a avançar no ranking. O Brasil ficou na 36ª posição.
Durante a discussão em Washington, Catalina Crespo Sancho, embaixadora da Costa Rica nos EUA, comparou a população de seu país a preguiças —de uma maneira boa.
“Eles são muito lentos, sim. Mas ninguém quer comê-los”, disse Sancho. “Eles não querem comer ninguém ou qualquer um dos outros animais na floresta. Eles se dão bem com todos. Todos os animais se dão bem com eles. No entanto, eles chegam onde precisam chegar, mesmo que demore uma eternidade para atravessar uma estrada.”
Mas no que diz respeito aos EUA, Mikkola permaneceu otimista: “Não conheci uma pessoa desagradável durante meus seis meses aqui.”