Glauber Rocha na Cinemateca Francesa. O Grupo Corpo na Maison de la Danse de Lyon. Marcelo Rubens Paiva na Sorbonne. Ailton Krenak no Collège de France. Homenagem ao Brasil no Festival de Cannes. Anna Maria Maiolino no Museu Picasso. 2025 será mesmo o Ano do Brasil na França.
A ideia foi lançada em 2023, durante visita do presidente Lula a seu homólogo Emmanuel Macron. Inspira-se em iniciativa semelhante realizada em 2005. Desta vez, o ensejo são os 200 anos de relações diplomáticas —em outubro de 1825, a França reconheceu a independência do Brasil.
A programação, a cargo dos ministérios da Cultura e das Relações Exteriores, ainda é uma obra em andamento. Embora a abertura oficial esteja prevista para abril, alguns dos mais de 150 eventos já começaram. Ganharam o nome de “prelúdio”, explica o embaixador do Brasil na França, Ricardo Neiva Tavares.
É o caso de uma retrospectiva do fotógrafo Sebastião Salgado, inaugurada no início do mês em Deauville, 200 km a oeste de Paris; da retrospectiva de Glauber na Cinemateca, aberta na quinta (13) com “Antônio das Mortes”; e do tradicional festival de cinema Regards d’Ailleurs (“Olhares de Fora”), em cartaz em Dreux, 100 km a oeste de Paris, com o Brasil como tema deste ano.
O cronograma aproveita alguns eventos relacionados ao Brasil que já faziam parte do calendário cultural francês, como o Festival do Cinema Brasileiro, no final de abril; o desfile de carnaval na avenida dos Champs-Elysées, a principal de Paris, em julho; e a lavagem da escadaria da igreja de La Madeleine, versão parisiense da Lavagem do Bonfim que ocorre desde 2002, reúne milhares de pessoas e este ano será em setembro.
Mesmo esses eventos preexistentes, porém, ganharão escala por conta do Ano do Brasil. Em sua 27ª edição, o festival de cinema deve receber 8.000 pessoas, um terço a mais que no ano passado, prevê a diretora do evento, Katia Adler. Este ano, a homenageada será Dira Paes, e a madrinha, a atriz francesa Marina Foïs.
Contribuem para o otimismo prêmios recentes, como o Oscar de melhor filme internacional para “Ainda Estou Aqui”, de Walter Salles, e o Grande Prêmio do Júri para “O Último Azul”, de Gabriel Mascaro, no Festival de Berlim. “É um momento único para o cinema brasileiro”, diz Katia.
A boa fase do audiovisual nacional será exposta em maio, no Festival de Cannes, quando o Brasil será o país homenageado no Marché du Film, encontro de profissionais do setor onde se discutem novos projetos e parcerias.
Como seria de esperar, a programação musical será intensa e variada. Vai do erudito, como um concerto de música brasileira na Ópera de Bordeaux, em abril, ao popular, com dois shows de Seu Jorge em abril, no Grand Rex, uma das principais salas de espetáculos de Paris, e um baile funk em Deauville, em maio.
Os estereótipos sobre o Brasil não foram esquecidos. Trechos do Sena serão batizados com nomes de praias brasileiras durante o Paris Plage, em agosto e setembro, quando os parisienses colocam sungas e biquínis para tomar sol à beira do rio que corta a capital. O monumental Grand Palais será palco de um baile de Carnaval.
Grandes instituições acadêmicas francesas convidaram personalidades brasileiras a palestrar. No final deste mês, o escritor Marcelo Rubens Paiva, autor de “Ainda Estou Aqui”, deve falar na tradicional universidade Sorbonne sobre a memória da ditadura militar no Brasil. O escritor e líder indígena Ailton Krenak dará uma conferência em abril no histórico Collège de France, sobre a relação entre a floresta e as metrópoles.
Em paralelo ao Ano do Brasil na França, também está sendo organizada uma Temporada da França no Brasil, que irá de agosto a dezembro. O órgão encarregado na França é o Institut Français, responsável pela política cultural francesa no exterior.
Segundo a diplomata Anne Louyot, comissária-geral do evento, os cerca de 200 projetos em preparação estão divididos em três eixos principais: meio ambiente, diversidade cultural e luta contra a discriminação e a desinformação.
A programação francesa definitiva ainda não foi divulgada, mas deve incluir uma exposição na Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro, sobre os 200 anos de relações diplomáticas entre França e Brasil; um show da cantora franco-beninense Angélique Kidjo; e uma noite de música francesa e brasileira no Sesc Pompeia, em São Paulo.
Veja a programação dos eventos já confirmados para o Ano do Brasil na França.
MARÇO
- 1/3 – Fotografia: Retrospectiva Sebastião Salgado no Museu Les Franciscaines (Deauville); até 1/6
- 13/3 – Cinema: Retrospectiva Glauber Rocha na Cinemateca Francesa (Paris); até 21/3
- 13/3 – Artes Plásticas: Homenagem a Frans Krajcberg no Espaço Krajcberg (Paris); até agosto
- 22/3 – Dança: Grupo Corpo no Maison de la Danse (Lyon);até 30/3
- 26/3 – Música: Jacques Morelenbaum e Cello Samba Trio em Bordeaux
ABRIL
- 1/4 – Música: Seu Jorge no Grand Rex (Paris); dois dias
- 4/4 – Música: Festival Internacional de Choro no Maison du Brésil (Paris); três dias
- 8/4 – Artes Plásticas: Lucas Arruda no Museu d’Orsay (Paris); até julho
- 11/4 – Etnografia: Exposição Amazonies no Musée des Confluences (Lyon); até fev.26
- 29/4 – Conferência com Ailton Krenak no Collège de France (Paris)
- 29/4 – Cinema: Festival do Cinema Brasileiro no L’Arlequin (Paris); até 6/5
MAIO
- 5/5 – Música: Yamandú Costa e Thibault Cauvin no Théâtre de la Ville (Paris)
- 13/5 – Cinema: Homenagem ao Brasil no Festival de Cannes; até 21/5
- 15/5 – Música: Exposição Funk, do MAR-Rio, e Festival Lille3000 (Lille);até 31/8
- 16/5 – Música: Festival Internacional de Violoncelo em Beauvais; até 25/4
JUNHO
- 6/6 – Artes Plásticas: Instalação e Ernesto Neto no Grand Palais (Paris); até 30/8
- 17/6 – Artes Plásticas: Anna Maria Maiolino no Museu Picasso (Paris); até 21/9
JULHO
- 4/7 – Cidadania: Salão Expo Favela no Teatro de la Concorde (Paris); dois dias
- 5/7 – Carnaval: Baile e desfile de escolas de samba no Grand Palais (Paris); dois dias
- 6/7 – Esporte: Taça das Favelas no Estádio Bauer (Saint-Ouen)
AGOSTO
- 2/8 – Lazer: Paris Plage com tema Brasil no rio Sena (Paris); até setembro
SETEMBRO
- 14/9 – Religião: Lavagem da Madeleine na Igreja de la Madeleine (Paris)
- 25/9 – Etnografia: Exposição Amazônia no Museu do Quai Branly (Paris); até jan.26