Alguns episódios protagonizados pela atual gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) colocam em evidência sua baixa capacidade de persuadir a população.
A tentativa fracassada de recrudescer a regulamentação do Pix e a ausência de uma política fiscal clara ilustram bem esse dilema, pois expõem uma ferida antiga do atual governo: a persistente desconfiança na tomada de decisão do grupo petista no que tange aos gastos públicos e a esfera econômica, principalmente depois que vieram à tona os seus supostos envolvimentos em escândalos de corrupção.
Conforme pesquisas realizadas pelo Latinobarómetro, em 2023 (último ano da série histórica), cerca de 54% da população brasileira não confiava no presidente da República. A rigor, a desconfiança generalizada e continuada em instituições de representação política, fundamentais para a democracia, pode gerar tensões e comprometer a cooperação e a solidariedade social diante de determinadas pautas. Por outro lado, cumpre um papel fundamental ao assegurar a participação da população na avaliação da gestão governamental (Moisés, 2005).
Com efeito, em recente pesquisa realizada pela Quaest, observou-se que a popularidade do presidente Lula também vem caindo, até mesmo no Nordeste, região onde sempre recebeu a maior parcela de votos. Em grande medida, fatos recentes relacionados à agenda econômica, gastos públicos e decisões em torno do Pix influenciaram no desgaste desses índices. No entanto, outras variáveis se destacam nessa mesma pesquisa. A violência (26%), por exemplo, é o problema público que mais chama a atenção da população, seguida por questões sociais (23%), economia (21%), saúde (14%), educação (8%) e corrupção (8%). Isso demonstra que o eleitor vem se atentando às falhas das políticas públicas importantes para a sociedade e que oferecer o trivial não é o suficiente.
Ainda sobre a problemática da violência, apesar do índice de mortes violentas letais intencionais ter caído 3,4% em 2023 em relação ao ano anterior, o país ainda apresenta uma das mais altas taxas de homicídio do mundo: 22 mortes a cada 100 mil habitantes, enquanto a média mundial é de 6/100 mil, a das Américas é de 17/100 mil e a da América Latina, 24,5/100 mil. A Organização Mundial da Saúde estipula um patamar de 10/100 mil como limite. Soma-se a isso o avanço das facções criminosas, que explodiram nos últimos 20 anos. Hoje são mais de 80 delas nas prisões do país, o que impacta nos homicídios. A população também demonstra grande insatisfação com as questões sociais, consideradas o carro-chefe de toda a campanha do presidente —o que é bastante contraditório.
Outro gargalo identificado está na comunicação: cerca de 53% das pessoas entrevistadas avaliam negativamente a capacidade do governo de se comunicar. Esse dado revela não apenas um frágil assessoramento nessa seara e a falta de traquejo com as redes sociais, mas também uma desconexão entre a equipe do presidente e os anseios da população em geral.
Ao expor suas insatisfações, a população está dando um recado de que algo precisa ser feito sobre os problemas suscitados. Por isso as pesquisas são providenciais. Por mais que inicialmente causem um desconforto a quem está no poder, é a oportunidade da qual precisam para compreender as preferências e demandas urgentes da população, alinhando sua agenda e tomada de decisão a essas questões.
É proverbial o fato de a economia influenciar diretamente a popularidade dos governantes. Não obstante, a pesquisa da Quaest traz à baila outros problemas de grande relevância para a sociedade e que também maculam a imagem do presidente, sobretudo na área da segurança pública, como sugerem os dados.
A percepção dos entrevistados sobre Lula 3 aponta para um cenário preocupante, pois é preciso muito mais do que simplesmente substituir as frutas na dieta quando se tem um populista com crise de popularidade no poder.
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