20 mar 2025, qui

Banco Central promete ser duro sem perder a ternura – 19/03/2025 – Vinicius Torres Freire

A praça financeira fazia pressão para que o Banco Central não amolecesse. Isto é, não desse sinal de que a campanha de elevação da Selic teria fim no horizonte visível. Os “falcões” (a favor da dureza nos juros) ameaçavam morder o BC “pombo” (mole com a inflação).

Nesta quarta, o BC foi duro sem perder a ternura, para recorrer de modo irônico ao clichê. Não houve indício de que está mais preocupado com o ritmo da economia do que com o controle da inflação. Mas disse que agora vai mais devagar com o andor.

Segundo o BC, a Selic aumenta mais uma vez na próxima reunião do Copom, em maio. Para junho, não há indicação. No entanto, depreende-se, pela descrição que o BC faz de riscos e outras avaliações de conjuntura, que esta campanha contra a inflação não tem data para acabar.

A ligeiríssima novidade do comunicado em que o BC divulga a decisão sobre a Selic é a menção a sinais “incipientes” de desaceleração (o ritmo da economia talvez comece a seguir o caminho projetado). Logo, é possível ir com mais calma, depois das três pauladas, três aumentos de 1 ponto percentual. Qual a “ternura”? O BC parece acreditar que é possível conduzir a política monetária em ritmo mais normal.

O que é “normal”? Sem modificações maiores no cenário, alta de 0,75 ponto percentual seria agressiva. Afora milagre na inflação, 0,25 ponto percentual seria encarado como moleza. Logo, 0,5 ponto parece chute razoável.

Em maio, a Selic iria a 14,75%. Em junho, um chorinho de 0,25 ponto percentual levaria a taxa básica de juros para os 15% previstos para o final deste ano pelos povos do mercado.

A inflação vai para a meta ou não vai? Segundo o BC, nesse cenário, chega a 3,9% ao ano no terceiro trimestre de 2026. A meta é 3%. O BC endureceu, mas não perdeu a ternura, por assim dizer.

O preço do dólar voltou a R$ 5,65. Dado o pico do pânico de dezembro, R$ 6,27, parece pouco. Dadas as expectativas médias da praça financeira, na casa dos R$ 5,90, é um refresco para a inflação, embora não resolva o problema, até porque marés cambiais viram rapidinho. No início de 2024, o dólar custava R$ 4,92.

Recentemente, vem se dizendo na praça que os “robôs”, que induzem aplicações em tendências, de alta ou baixa, mudaram de direção. Hum.

Poderia bem ser que estivesse pingando dinheiro aqui (inclusive na Bolsa), saído dos EUA ou até de países que disputam recursos com o Brasil, como o México. Os hermanos mexicanos correm o risco de tomar um tombaço no PIB, por causa de Donald Trump. Mas o pingo de dinheiro não aparece em números de fluxo.

Há chutes informados baseados em causa imediata e mais nebulosa —perspectiva de crescimento menor nos Estados Unidos, com inflação ainda relativamente comportada, apesar de Trump. Motivos mais “fundamentais” (termos de troca, diferença entre taxas de juros brasileiras e americanas) ou a redução de risco relativo do Brasil não mudaram lá grande coisa.

Em tese, haveria motivos “domésticos” da valorização do real neste ano, que foi bem maior do que a de moedas de países comparáveis. Mas onde estão esses motivos, fora o exagero do pânico de dezembro? Exagero, pois o problema fiscal permanece grave e assim pensam os donos do dinheiro.

Apesar de dólar mais em conta, as taxas de juros no atacadão do mercado de dinheiro continuam nos maiores níveis do século, nível de arrocho.


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