Imagine que você tem a chance de apostar em uma corrida de cavalos. Um deles corre em linha reta, em pista plana, com velocidade previsível. O outro corre em zigue-zague, em terreno irregular, e às vezes até para no caminho. Agora, imagine que te dizem que o vento vai mudar e soprar a favor. Qual cavalo você escolheria para ganhar com esse vento? É disso que estamos falando quando alguém diz: “vou comprar ações porque os juros vão cair”.
Depois do último aumento da Selic e da sinalização de que o ciclo de alta pode ter mais um movimento e estar perto do fim, muitos investidores começam a contar os dias para voltar à Bolsa. A ideia parece lógica: juros menores no futuro favorecem os ativos de risco. Mas será que essa lógica se aplica da mesma forma a todos os investimentos?
Como Warren Buffett já alertou, “o maior erro que os investidores cometem é não pensar nos investimentos como negócios”. E negócios têm mais variáveis do que apenas os juros.
O movimento de queda da taxa Selic, de fato, favorece ativos que possuem fluxo de caixa projetado para o futuro. Um título público prefixado, por exemplo, é uma promessa clara de pagamentos futuros. Se os juros caem, o valor presente desses pagamentos sobe. Consequentemente, o preço do título sobe também.
Ações também têm fluxos futuros, afinal as empresas pagam dividendos. Mas ao contrário da renda fixa, esses fluxos são incertos. Eles dependem do crescimento da empresa, das margens, do câmbio, da confiança do investidor, da política econômica e até de fatores externos. A taxa de juros é apenas uma variável nesse conjunto.
Veja a diferença com um exemplo simplificado. Um título que paga R$ 1.000 em 10 anos, com taxa de desconto de 10% ao ano, vale hoje cerca de R$ 385,5. Se essa taxa cair para 8%, o mesmo título passa a valer R$ 463,2 um ganho de 20%. O retorno é direto, automático. Já em ações, a queda de juros pode até ajudar, mas se o lucro da empresa cair ou a confiança desaparecer, o preço da ação pode continuar no chão.
Isso não quer dizer que investir em Bolsa seja errado. Pelo contrário, para investidores que aceitam o risco, pode fazer parte de uma carteira de longo prazo. Mas fazer isso com base em um único fator é um erro de julgamento. Para capturar o efeito direto da queda dos juros, o veículo mais eficaz é a renda fixa de longo prazo. Especialmente os títulos prefixados ou atrelados ao IPCA com vencimento de longo prazo.
Portanto, antes de correr para a Bolsa, pense como um investidor de verdade. Se sua aposta é na queda dos juros no futuro, o cavalo certo para isso já está na pista: ela se chama renda fixa.
Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.
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