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Pela segunda vez em semanas, a chinesa BYD abalou o setor automotivo global.
Na segunda-feira (17), Wang Chuanfu, o fundador bilionário do grupo, revelou um novo sistema de carregamento que poderia adicionar cerca de 470 km de autonomia às baterias da BYD em apenas cinco minutos.
O lançamento da chamada Super e-Platform colocou a BYD na frente da corrida de toda a indústria para desenvolver células de bateria para veículos elétricos que tornem o reabastecimento tão rápido quanto uma parada no posto de gasolina para encher o tanque de um carro com motor a combustão.
A divulgação do carregamento ultrarrápido segue o anúncio de fevereiro de seu sistema avançado de assistência ao motorista “God’s Eye”, disponibilizado gratuitamente em todos os seus modelos. Veja a seguir como a novidade impacta o mercado de veículos elétricos, que conta com nomes de peso, como a Tesla de Elon Musk, na corrida por avanços.
QUAL É O NOVO AVANÇO?
De acordo com a BYD, a plataforma tem uma potência de carregamento de 1.000 quilowatts e suporta até 1.000 amperes. Isso significa que pode carregar baterias a uma taxa de cerca de 2 km por segundo e adicionar 400 km de autonomia em cinco minutos.
O lançamento da tecnologia implica que a BYD superou vários obstáculos no carregamento ultrarrápido, incluindo riscos de segurança, vida útil mais curta das baterias e os custos extras associados à instalação de carregadores super-rápidos.
Isso ajudará a lidar com as reclamações dos consumidores de que os veículos elétricos, quando comparados aos carros tradicionais com motores de combustão interna, demoram muito para carregar e aumentam o medo de ficar sem carga em viagens mais longas.
Shay Natarajan, sócia do fundo de private equity Mobility Impact Partners, disse que a BYD estava usando um sistema de resfriamento de bateria mais sofisticado em comparação com as montadoras ocidentais.
“Isso permite que a bateria atinja a potência máxima de carregamento mais rapidamente e mantenha essa potência máxima por mais tempo durante o ciclo de carregamento, aumentando assim a potência média de carregamento durante o ciclo e permitindo um carregamento significativamente mais rápido”, disse ela.
Natarajan acrescentou que a BYD também parecia ter feito mais melhorias na bateria, provavelmente usando tecnologia de eletrólito sólido em combinação com tecnologia “silício no ânodo”. Esses avanços ajudariam a aumentar “significativamente” a taxa de carga e descarga da bateria.
QUÃO ATRÁS ESTÃO OS RIVAIS DA BYD?
O sistema de supercarregadores da Tesla está entre as maiores redes de carregamento do mundo e foi uma das razões pelas quais a empresa desfrutou de uma liderança tão dominante em veículos elétricos por muito tempo.
Mas as capacidades de carregamento da rede não correspondem ao que a BYD está prometendo. Atualmente, permite que os Teslas sejam carregados até 200 milhas (320 km) de autonomia adicional em 15 minutos. O preço das ações da Tesla caiu mais de 5% após o anúncio da BYD.
Entre outras montadoras, a alemã Mercedes-Benz revelou recentemente seu novo sedã compacto totalmente elétrico CLA, que pode ser carregado para até 325 km em 10 minutos usando uma estação de carregamento rápido.
Um novo tipo de bateria produzido pela rival BMW também promete 30% de carregamento mais rápido, mas mesmo assim diz que apenas 300 km de autonomia poderiam ser adicionados em uma recarga de 10 minutos.
Possivelmente, o principal desafiante da BYD é o gigante chinês de baterias CATL. No ano passado, o grupo revelou sua bateria Shenxing Plus com um tempo de carga equivalente a 1 km de autonomia por segundo, ou 600 km em 10 minutos.
Analistas esperam que os rivais da BYD alcancem velocidades de carregamento semelhantes nos próximos anos, o que significa que o carregamento ultrarrápido se tornará mais comum na Europa e nos EUA por volta de 2030.
OS CARREGADORES RÁPIDOS DA BYD ESTARÃO AMPLAMENTE DISPONÍVEIS NA CHINA?
O sedã Han L e o SUV Tang L, nomeados em homenagem a duas dinastias governantes chinesas, serão o primeiro lote de modelos emblemáticos equipados com o mais recente sistema. A BYD também prometeu instalar cerca de 4.000 carregadores inicialmente para apoiar a nova tecnologia de carregamento.
Analistas do Goldman Sachs, em um relatório de pesquisa, disseram que a nova Super e-Platform era “altamente competitiva” devido à sua velocidade de carregamento “melhor da categoria” e um tempo de aceleração de 0 km/h a 100 km/h em menos de três segundos.
No entanto, o banco de investimento dos EUA foi menos otimista quanto ao ritmo de implantação dos novos modelos Han e Tang, citando os preços mais altos em comparação com modelos rivais no mercado, como o Zeekr 007 e o Aito M7 apoiado pela Huawei.
Os preços iniciais para os carros Han e Tang são de 270 mil renminbi (R$ 210,9 mil) e 280 mil renminbi (R$ 218,7 mil), respectivamente, durante uma campanha de pré-venda em abril.
“Esperamos um impacto de volume relativamente limitado desses dois modelos no curto prazo”, escreveram os analistas em uma nota de pesquisa.
O SETOR AUTOMOTIVO GLOBAL DEVE SE PREOCUPAR?
A Super e-Platform chega apenas semanas após a BYD anunciar o lançamento do sistema God’s Eye, que será oferecido gratuitamente, mesmo em seus carros mais baratos.
Tu Le, fundador da consultoria Sino Auto Insights, disse que o anúncio de carregamento rápido, juntamente com o God’s Eye, aumentou significativamente a pressão sobre as montadoras globais.
Ao contrário de qualquer outra grande montadora global, a BYD ostentava propriedade intelectual em tecnologia de veículos elétricos, baterias e carregamento, argumentou Le, o que significava que os sistemas poderiam ser integrados “muito mais fácil e limpo” do que no restante do setor.
Ser capaz de oferecer essas tecnologias em veículos de mercado de massa é onde está a diferença entre a BYD e todos os outros. A BYD provavelmente colocará algumas marcas globais fora do mercado
No entanto, barreiras comerciais crescentes e preocupações ocidentais sobre os riscos à segurança nacional da tecnologia chinesa significam que grupos como a BYD ainda enfrentam uma imensa incerteza em relação ao acesso ao mercado além das fronteiras da China.
Kim Seung-tae, executivo da Associação da Indústria de Baterias da Coreia, apontou que, enquanto grupos rivais coreanos estavam perseguindo o progresso tecnológico da BYD, “o ambiente comercial, assim como a tecnologia, é importante”.
“Nossas empresas manterão sua dominância no mercado dos EUA enquanto o IRA [Lei de Redução da Inflação] for mantido”, disse ele, referindo-se à legislação da era Biden nos EUA que excluía veículos elétricos com baterias chinesas de se beneficiarem de créditos fiscais.
Kim acrescentou: “Embora a competição seja severa na Europa, teremos mais oportunidades lá à medida que as regulamentações ambientais se tornarem mais rigorosas, dada a fraqueza chinesa em ESG [políticas ambientais, sociais e de governança] e direitos trabalhistas.”