17 mar 2025, seg

Champions League: o VAR e a visão além do alcance – 16/03/2025 – O Mundo É uma Bola

Não tem jeito. Não há um jogo em que ele esteja presente e permaneça alheio a polêmicas.

Mas desta vez o famigerado VAR, o árbitro assistente de vídeo, extrapolou. Não feliz em aparecer somente durante o tempo regulamentar e a prorrogação, decidiu dar o ar de sua (des)graça em uma disputa de pênaltis.

Foi na quarta-feira (12), pelas oitavas de final da Champions League, em Madri, no clássico Atlético x Real (sempre nervoso e disputado) que definia quem permaneceria vivo na competição.

No jogo de ida, no estádio Santiago Bernabéu, o mandante Real ganhou por 2 a 1, na semana anterior. No jogo de volta, no estádio Metropolitano, o mandante Atlético venceu por 1 a 0. O placar agregado significava decisão por pênaltis.

Na segunda cobrança do Atlético, o argentino Julián Álvarez, 25, campeão do mundo com seu país na Copa de 2022, no Qatar, mandou para as redes do goleiro belga Courtois.

Álvarez, porém, escorregou no momento do chute, e surgiu a dúvida se o atacante poderia ter tocado a bola com o pé esquerdo, o de apoio, antes de chutá-la com o outro. Caso isso tivesse ocorrido, seria uma ilegalidade e o gol teria de ser invalidado.

Vi o replay nos ângulos oferecidos, repetidamente, e me foi impossível concluir que o camisa 19, mesmo que muito de leve, tivesse incorrido em “dois toques” na cobrança desse pênalti.

Aliás, posso assegurar que não só a mim. Ninguém chegaria a um entendimento diferente. Pelo contrário. Tendo visto e revisto, concluí que não, que Álvarez não cometeu irregularidade alguma.

Porém a quem caberia a decisão, depois de acintosa chiadeira dos jogadores do Real, liderados pelo astro Kylian Mbappé? A ele, ao VAR, representado pelo polonês Tomasz Kwiatkowski.

Esse cidadão todo-poderoso, com o emprego de uma tecnologia que em alguns casos (vide as linhas do impedimento) é incompreensível para qualquer cidadão não todo-poderoso, e que deve interceder somente em casos de “erros claros e óbvios”, eximiria a dúvida.

De que jeito desta vez? Vendo e revendo o lance. Insisto: pelas imagens disponíveis, a bola indubitavelmente não se moveu antes de Álvarez atingi-la com o pé direito. Mas Kwiatkowski decretou o contrário, e o árbitro de campo, seu compatriota Szymon Marciniak, acatou.

Gol anulado, a disputa prosseguiu, e deu Real, 4 a 2. Na entrevista pós-jogo, o treinador do Atlético, Diego Simeone, mostrou inconformismo. “Vi as imagens. A bola não se mexe”, afirmou o argentino, em referência a possível toque de Álvarez na redonda com o pé esquerdo.

Sem que ela se mexa, não dá para concluir nada, e o gol deveria ter sido mantido. A não ser que Kwiatkowski tenha tido acesso a um ângulo diferente, que corroborasse sua resolução.

E teve. No dia seguinte à partida, a Uefa, organizadora da Champions, levou a público um vídeo em que, com dose cavalar de esforço, nota-se a irregularidade, mínima. É surpreendente, pois por outras câmeras há 100% de crença na regularidade.

O VAR contou com a visão além do alcance, viu o que ninguém inicialmente viu, como ocorrera na Copa de 2022, em um gol do Japão contra a Espanha no qual a videoarbitragem, comandada por um mexicano, bancou que a bola não tinha saído pela linha de fundo antes da conclusão da jogada –pela visão “dentro do alcance” ela saiu, e muito.

No caso da Champions, mesmo que o acerto possa ser comprovado, o desconforto levou a Uefa a afirmar que “entrará em discussões com a Fifa e o Ifab para determinar se a regra deve ser revista nos casos em que um toque duplo é claramente não intencional”.

O Ifab (International Football Association Board) é o órgão que cuida das regras do futebol.

Só que não se trata de mudar a regra, ou não simplesmente isso.

Trata-se de dar a visão além do alcance, instantaneamente, a todos os envolvidos (jogadores, treinadores, torcedores no estádio, espectadores fora do estádio, você, eu).

Para vermos sempre, e logo, o que o VAR vê.

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