A Organização Meteorológica Mundial (OMM), ligada à ONU, publicou relatório com panorama funesto sobre o clima na Terra. Não se trata mais de desastre projetado para o futuro, e sim de uma crise em que milhões de pessoas já sofrem com o impacto de eventos extremos.
Pior, as consequências do aquecimento serão irreversíveis por séculos. O CO2, cuja emissão seguiu em alta nas últimas décadas, apesar de 29 cúpulas como a COP30 de Belém, permanece muito tempo na atmosfera e não dá sinal de diminuirá tão cedo.
O Homo sapiens caminha sobre o planeta há algo entre 200 mil e 300 mil anos, mas a poluição produzida pela espécie, sobretudo nos dois séculos passados, fez a concentração de CO2 e outros gases do efeito estufa atingir patamar inédito em 800 mil anos —420 partes por milhão (ppm).
Esse véu de gases gerou recordes que teriam sido inimagináveis na Cúpula da Terra (Rio-92). A temperatura atmosférica em 2024 ficou 1,55ºC acima da média de 1850 a 1900, cruzando pela primeira vez o limite de prudência do Acordo de Paris, em 2015.
Todos os dez anos mais quentes já registrados coincidem com os últimos dez anos. Isso porque 90% do calor adicional foi absorvido na imensa massa de água dos oceanos, que tiveram sua taxa de aquecimento mais que duplicada no intervalo 2005-2024, em comparação com 1960-2005.
Águas mais quentes são má notícia. Sua energia fornece combustível para tempestades mais intensas, inclusive ciclones. A expansão térmica do oceano, aliada ao derretimento de geleiras, acelera a elevação do nível do mar, que saltou do ritmo de 2,1 mm ao ano, entre 1993 e 2002, para 4,7 mm/ano, de 2015 a 2024.
Pode parecer pouco, em especial na perspectiva imediatista de governantes. Eles e seus eleitores desconsideram a inércia titânica do sistema climático, que fará o aquecimento e o degelo prosseguirem por décadas a fio.
O horizonte se anuvia de vez quando se observa que o tema perde prioridade global, na esteira de retrocessos nos EUA. Além de retirar o país do Acordo de Paris e aniquilar políticas ambientais domésticas, Donald Trump tensiona a geopolítica de tal modo que a Europa já reduz despesas com adaptação à mudança climática e mitigação de seus efeitos para custear o próprio rearmamento.
Minado o multilateralismo, não haverá vencedores na guerra contra o aquecimento global. Nesse cenário conturbado acontecerá a COP30, em novembro, com escassa chance de resultados à altura do desafio portentoso.
editoriais@grupofolha.com.br