A HBO lança nesta terça-feira sua nova produção de “true crime”, “Bateau Mouche: O Naufrágio da Justiça”. Em três episódios, a série narra o naufrágio do barco Bateau Mouche 4º, que afundou na noite de 31 de dezembro de 1988 quando rumava, cheio de turistas, para as águas da praia de Copacabana, onde os passageiros esperavam ver a queima de fogos. Cinquenta e cinco pessoas morreram, incluindo a atriz Yara Amaral.
Dirigida e produzida por Tatiana Issa e Guto Barra, responsáveis por “Pacto Brutal: O Assassinato De Daniella Perez”, a série entrevista sobreviventes, exibe cenas de arquivo e recria, por meio de reconstituições dramáticas, a tragédia.
Os dois primeiros episódios são dedicados às histórias das vítimas e a relatar como o barco afundou. O terceiro capítulo conta o longo processo de julgamento dos acusados, empresários espanhóis que mantinham diversos empreendimentos turísticos no Rio de Janeiro.
A Marinha também foi acusada por ter liberado alvarás e permissões para os barcos do grupo Bateau Mouche, apesar de muitos questionamentos sobre a segurança das embarcações. Ninguém conseguiu explicar, por exemplo, como o Bateau Mouche 4º, que tinha autorização para receber 28 passageiros, teve sua capacidade legal expandida para 153 pessoas. A Marinha foi convidada a dar a sua versão da história na série, mas não quis participar.
“O Bateau Mouche foi um caso muito marcante para o Brasil”, diz a diretora Tatiana Issa. “Pessoalmente foi marcante para mim. Eu estava no velório da Yara Amaral, ainda era adolescente, mas aquilo me marcou muito. A série, para além daquele terrível acontecimento, traz um ‘suco de Brasil’, de coisas que são intrínsecas à nossa sociedade, como a corrupção e a morosidade da Justiça. A gente continua cometendo os mesmos erros.”
“Tivemos muita dificuldade para ter acesso aos autos do processo”, diz o diretor Guto Barra. “Levamos quase um ano para conseguir analisar os documentos. É um material imenso, que nunca foi digitalizado e estava pronto para ser incinerado. É uma história muito importante sendo apagada”.
Devido à escassez de material de arquivo sobre o acidente —não há imagens do barco saindo do restaurante Sol e Mar na praia de Botafogo e tampouco imagens de dentro da embarcação feitas no dia do naufrágio—, a série utiliza recriações dramáticas para contar os momentos de agonia após o Bateau Mouche 4º virar.
“As primeiras imagens feitas naquela noite ocorreram quando alguns barcos trouxeram sobreviventes e corpos de vítimas”, diz Guto Barra. “A Warner, empresa dona da HBO, entendeu a necessidade dessas dramatizações. Filmamos num tanque de ondas no Rio de Janeiro.”
Issa e Barra destacam o cuidado que precisaram ter durante as entrevistas. “Tivemos muita atenção e respeito às vítimas, assim como fizemos na série da Daniella Perez” diz Issa. “Em algumas entrevistas, como a do Fernando [Amaral, filho da atriz Yara Amaral], a equipe de filmagem inteira chorou. Foi muito forte.”
Patricio Diaz, gerente sênior de produção de conteúdos de não ficção da Warner, diz que “Bateau Mouche: o Naufrágio da Justiça” é uma evolução do true crime. “Estamos deixando o que era clássico no gênero, sangue, crimes, assassinos, para contar um evento com rigor jornalístico.”
Adriana Cechetti, diretora de produção e desenvolvimento de conteúdos de não ficção do estúdio, diz que a Warner está atrás de filmar histórias de true crime “que gerem conversa e discussão, com temas atuais, e que têm reflexo positivo para os envolvidos”.