Ela é paulistana, nascida no bairro do Ipiranga, filha de um casal de russos. Como toda criança cheia de energia, ela mal para quieta, sai correndo toda desajeitada, se atira na água e não larga seus brinquedos. Às vezes ela tira do sério a mãe dela, que anda exausta por mal desgrudar os olhos da filhinha.
O nome da menina é Nur, que em árabe significa luz. Ela é uma ursa polar que nasceu no último mês de novembro no Aquário de São Paulo —a primeira de sua espécie a nascer na América Latina. Seus pais, Peregrino e Aurora, vieram há dez anos de Kazan, na Rússia, país para lá de gelado onde muitos desses animais fascinantes vivem na natureza.
No Brasil, é claro, não temos ursos polares nativos. Mas o aquário onde Nur vive fez uma parceria científica com os russos que tem como objetivo preservar esses bichos, tão ameaçados por fatores como o aquecimento global. Você já deve ter visto por aí alguma daquelas imagens de dar pena que mostram ursos flutuando em geleiras cada vez menores, certo?
Mas não é comum que um urso polar nasça num aquário ou zoológico. Por isso, a equipe de veterinários ficou bastante empolgada quando notou que Aurora estava grávida. As primeiras horas após ela dar à luz foram de muita apreensão: não sabiam se mãe e filha se dariam bem ou se a filhote seria frágil demais.
Mas tem dado tudo certo. Hoje pesando cerca de dez quilos, Nur ainda está sendo amamentada e já começa a comer aquilo que os tratadores dão a ela, como pedacinhos de salmão e de frango.
“A Aurora é uma mãe maravilhosa, muito cuidadosa”, diz Laura Reisfeld, veterinária-chefe do aquário. “Só sossega quando a Nur dorme.”
O filhote virou o principal chamariz do lugar. Tem gente que vai lá só para ver a primeira ursinha polar nascida em São Paulo, embora o aquário abrigue um sem-número de outras espécies, como pinguins, focas, peixes-boi, lêmures, jacarés, axolotes e até cangurus, muitos cangurus.
Mãe e filha vivem numa toca, que é separada por uma grade do recinto onde as duas podem ser contempladas pelos visitantes. No recinto há um tanque de água no qual Aurora tem dado as primeiras lições de natação para Nur. Tem também uma queda d’água onde a filhote brinca.
A temperatura ali dentro é mais baixa do que do lado de fora, mas não tanto quanto se imagina. Em dias não tão quentes, o pessoal do aquário até abre as janelas do teto para que as ursas peguem um solzinho.
Peregrino, o pai, fica em um canto separado e não interage com as duas. “A gente respeita a biologia dos animais”, afirma a veterinária. “Na natureza, o urso polar macho não cuida dos filhos; pelo contrário, pode até machucá-los.”
Enquanto for criança, Nur deve continuar vivendo com a mãe. Quando for adulta, talvez deva ter de se separar e pode até precisar se mudar para a Rússia, a depender do que o programa de intercâmbio científico julgar melhor para ela.
O que orienta essa parceria, diz Laura, é a preservação da espécie do urso polar, ameaçado na região do polo norte por causa do derretimento das geleiras. Nos últimos anos, o Ártico perdeu boa parte de sua camada de gelo, e cientistas alertam que, se as temperaturas continuarem subindo, o habitat natural desses animais pode encolher muito no futuro.
“O urso polar é um símbolo do aquecimento global porque é muito fácil as pessoas se impressionarem com o drama dele, já que ele é realmente muito fofinho”, afirma a veterinária. “Mas tem espécies de peixes, de corais e de sapinhos que sofrem até mais do ele. A diferença é que eles não têm o mesmo apelo que os ursos.”
Aquário de São Paulo
R. Huet Bacelar, 407, Ipiranga. Seg. a dom., das 9h às 17h. R$ 120 (criança) e R$ 150 (adulto).