22 mar 2025, sáb

Credit Suisse vira alvo novamente por atuar em calotes – 21/03/2025 – Painel S.A.

O Credit Suisse virou alvo novamente da Abraicc (Associação Brasileira de Investimento, Crédito e Consumo), que acusa o banco de repetir com a empresa de energia solar Rio Alto o mesmo “modus operandi” usado na 2W Energia, outra companhia de energia limpa, que lançou debêntures (títulos de dívida) no mercado para se financiar e, em seguida, deu calote nos investidores.

Desta vez, o banco criou um fundo (CSHG Solar FIC FIM CP) para as debêntures da Rio Alto, que, segundo associação, deixou os cotistas sem receber deixando o referido fundo com praticamente zero de patrimônio líquido.

Quase todos os recursos (ao menos 95%) desse fundo foram direcionados para a compra de cotas de outro fundo, o chamado FIP Solar, criado para comprar as debêntures emitidas em julho de 2021 da Rio Alto.

Em fevereiro deste ano, a companhia, já com o caixa seriamente comprometido, chegou a expedir medida cautelar para suspender as execuções de suas dívidas por 60 dias.

A dívida da companhia com debêntures somava R$ 800 milhões até setembro —R$ 350 milhões a mais do que julho de 2021, quando a companhia emitiu as primeiras debêntures, parte delas conversíveis em ações da empresa.

Naquele momento, o cenário para a energia limpa era promissor e a Rio Alto prometia abrir capital na Bolsa.

Porém, a forte alta de juros que veio após a emissão das debêntures afastou novos entrantes na Bolsa. Faz três anos que o Brasil vive um ‘deserto de IPOs’ .

Além disso, os juros elevados também comprometeram o caixa da Rio Alto.

Mesmo padrão

A história consta em uma troca de notificações entre a Abraicc e o banco às quais o Painel S.A. obteve acesso.

No documento inicial, a Abraicc considera existir um “mesmo modus operandi” do Credit Suisse. Este caso, afirma a associação, se assemelha a um outro também notificado pela associação em 2024 envolvendo o Fundo Wave.

Em ambos os casos, o Credit Suisse atuou em todas pontas da operação, ainda segundo a Abraicc.

No Wave, o prejuízo foi de R$ 600 milhões para quem comprou as cotas —também lastreadas em debêntures de outra companhia de energia renovável, a 2W Energia.

“Chama atenção que a situação do Fundo Solar é em tudo igual ao que está ocorrendo no Fundo Wave, responsável pela estratégia de investimento na 2W Energia S/A”, escreve a Abraicc na notificação.

“Em ambos os casos V.Sas. [Vossas Senhorias] empregaram o mesmíssimo modus operandi, com a emissão de debêntures de companhias que não são de primeira linha, altamente endividadas, sob o pretexto de futuro IPO [abertura de capital] de ações da emissora, e constituição de um fundo de investimento em participações para viabilizar a distribuição dessas debêntures ‘travestidas’ de cotas de fundo de investimento em ativos de infraestrutura.”

Ao Painel S.A. o advogado Alfredo Sérgio Lazzareschi Neto, que representa e preside a Abraicc, confirmou que o caso do fundo Solar é a mesma história contada para os investidores no caso do fundo Wave, “com a mesma estrutura (debêntures e FIP), mesmos prestadores dos fundos, e mesmo resultado final (calote)”.

Outro lado

Consultado, o Credit Suisse não quis comentar. Contudo, em resposta à notificação enviada para a Abraicc, o banco questiona a legitimidade da associação para atuar na representação dos cotistas do fundo Solar.

Nela, a instituição afirma que todas as regras do produto foram amplamente divulgadas ao mercado e todos os riscos foram detalhadamente descritos no material de divulgação da emissão das debêntures.

“No material de divulgação [do investimento], constou uma série de riscos associados à Rio Alto, em especial, o risco de inadimplência ou atraso no pagamento, bem como aqueles relacionados ao bom desempenho, à continuidade das operações e ao aumento do endividamento”, escreveu o Credit Suisse para a Abraicc.

A instituição financeira frisou ainda que, assim como no caso do fundo Wave, o fundo Solar foi destinado exclusivamente a investidores profissionais.

Segundo o Credit, essa classe de investidor é assim caracterizada por aqueles que já atuam no mercado de capitais ou por investidores que possuem patrimônio investido alto, o que permite presumir que eles possuem maior conhecimento e condições de avaliar por si próprios as informações sobre suas aplicações.

Com Stéfanie Rigamonti


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