22 mar 2025, sáb

Dia Mundial do Teatro traz Shakespeare chinês no Brasil – 21/03/2025 – Ilustrada

Rio de Janeiro e Salvador verão, no final deste mês, um acontecimento raro em palco brasileiro: teatro chinês, de fato. O Grupo de Artes Cênicas de Jiangsu, de Nanquim, vai apresentar episódios de duas óperas, como são chamadas as peças do teatro musical tradicional e popular da China.

Uma delas é do autor visto, dentro e fora do país, como o Shakespeare chinês. Tang Xianzu (1550-1616), com obras como “O Pavilhão das Peônias”, foi um marco para a cultura na China, como seu contemporâneo na Inglaterra.

“Sua filosofia da emoção suprema quebrou a rigidez confucionista”, diz Zhou Dongliang, que comanda a companhia. “Ele colocou a libertação do espírito humano no drama, construindo uma visão de mundo centrada na emoção, que se tornou marca registrada do despertar intelectual da era Ming e moldou profundamente a estética teatral oriental.”

Tang e Shakespeare, que morreram no mesmo ano, viveram numa “era de fervor humanista tanto no Oriente quanto no Ocidente”.

No Brasil, será mostrada uma das cenas célebres de “O Pavilhão das Peônias”, sobre o sonho de amor da filha de um homem poderoso por um acadêmico pobre. Se montada na íntegra, o que só é feito de vez em quando, a obra duraria mais de 20 horas.

Du Liniang, a jovem que se apaixona, será representada por Gong Yinlei. Zhou, ele próprio ator premiado, mas que não estará no palco, diz que a atriz é reconhecida por seu refinamento nas óperas do gênero Kunqu. “Por meio do controle meticuloso de tom, respiração e ritmo, combinado com movimentos expressivos dos olhos e gestos fluidos, ela revela as camadas emocionais de Du Liniang.”

“A cena mostra seu mundo interior”, afirma. “A fusão de música e dança evoca caminhos, por meio de passos circulares, gestos em forma de nuvem. Cria paisagens num cenário esparso.”

A outra apresentação, “Ponte Quebrada”, parte da ópera “Lenda da Serpente Branca”, é de uma história anterior e ainda mais conhecida, não só como teatro.

A exemplo de “Pavilhão”, é também sobre “o triunfo do amor diante dos constrangimentos da sociedade, um amor que transcende identidade e preconceito”, diz Zhou. Neste ano da cobra na China, a protagonista é uma serpente branca que ganha forma humana.

Questionado sobre como os espectadores no Rio e em Salvador podem apreciar teatro tão diferente, Zhou sugere começar visualmente, com “os trajes ornamentados e os movimentos simbólicos, como as mangas d’água que transmitem emoção”.

Depois, “sintonize-se com as cadências melódicas e mergulhe na estética da harmonia entre realidade e ilusão”. Os espaços vazios da ópera chinesa, complementa, “contêm um significado ilimitado, etéreo”, próprio da arte oriental.

Wang Ling, dramaturgo e diretor da Associação de Teatro da China, está organizando a delegação de nove artistas chineses ao Brasil. Ele diz que as apresentações “fortalecem o intercâmbio cultural e são um bom começo para ter mais contato com a comunidade teatral brasileira e ver projetos, trazer artistas para a China e vice-versa”.

Jeff Fagundes, diretor e ator que preside o Centro Brasil do International Theatre Institute (ITI), entidade ligada à Unesco, está organizando a mostra no Rio, entre 27 e 30 de março. É em comemoração ao Dia Mundial do Teatro, na próxima quinta-feira (27).

Haverá também espetáculos da Tailândia, Coreia do Sul, Chile e outros, inclusive brasileiros de Rio, São Paulo e Minas Gerais, além de homenagens ao diretor brasileiro Augusto Boal e outros.

Em Salvador, está prevista uma apresentação no dia 31, além de workshops e encontros organizados pelo grupo Teca Teatro.

“A gente acredita que essa colaboração entre os continentes é fundamental”, diz Fagundes. “Fazer curadoria de peças da Ásia é muito mais complexo do que da Europa. E é muito mais caro trazer artistas da China do que da França.”

Festivais brasileiros estabelecidos como a MITsp nunca apresentaram peças chinesas, e Fagundes diz que também está tentando aproximá-los.

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