14 mar 2025, sex

Encontrados fósseis que podem ser de nova espécie humana – 14/03/2025 – Ciência

Cientistas descobriram na Espanha ossos faciais fossilizados com cerca de 1,1 milhão a 1,4 milhão de anos. Os restos podem ser de uma espécie previamente desconhecida na linhagem evolutiva humana, o que reescreveria a história inicial da humanidade na Europa.

Os fósseis encontrados no sítio da caverna Sima del Elefante, perto da cidade de Burgos, compreendem fragmentos que abrangem 80% do lado esquerdo do rosto de um indivíduo adulto, incluindo partes do osso da bochecha e maxilar superior com a estrutura nasal. Eles estão entre os fósseis humanos mais antigos conhecidos da Europa.

Os pesquisadores apelidaram o fóssil de “Pink”, em homenagem à banda Pink Floyd.

A anatomia facial de Pink era mais primitiva do que a do Homo antecessor, uma espécie conhecida por ter habitado a Europa Ocidental há cerca de 850 mil anos, cujo rosto médio esguio se assemelhava ao dos humanos modernos. Pink possuía um rosto médio mais projetado do que o do Homo antecessor e exibia algumas semelhanças com o Homo erectus, considerado a primeira espécie humana a ter migrado para fora da África.

Os pesquisadores disseram que os fósseis não são completos o suficiente para concluir que Pink pertencia a uma espécie humana antiga ainda sem nome, mas afirmaram que essa é uma possibilidade real. Eles atribuíram ao fóssil o nome provisório Homo affinis erectus devido a suas afinidades com certas características do Homo erectus.

“Essas descobertas abrem uma nova linha de pesquisa no estudo da evolução humana na Europa”, afirmou a arqueóloga Rosa Huguet, do Instituto Catalão de Paleoecologia Humana e Evolução Social (Iphes-Cerca) na Espanha, autora principal do estudo publicado na última quarta-feira (12) na revista Nature.

“Quando tivermos mais fósseis, poderemos dizer mais sobre essa espécie”, acrescentou Huguet.

Nossa espécie Homo sapiens não apareceu até aproximadamente 300 mil anos atrás na África, migrando posteriormente para todo o mundo. Homo erectus apareceu pela primeira vez na África em torno de 1,9 milhão de anos atrás, com proporções corporais parecidas com as dos humanos modernos. Homo antecessor também tinha proporções corporais modernas, assim como anatomia facial semelhante à dos humanos modernos.

A região média do rosto de Pink se assemelha à do Homo erectus, com sua estrutura nasal plana e subdesenvolvida, ao contrário da estrutura óssea nasal proeminente do Homo antecessor e do Homo sapiens.

Homo antecessor tem um rosto médio semelhante ao moderno, muito parecido com o do Homo sapiens. Em contraste, o rosto médio encontrado em Sima del Elefante tem uma combinação de características compartilhadas com o Homo erectus e outras que são derivadas e não presentes no Homo erectus“, disse o paleoantropólogo e autor sênior do estudo José María Bermúdez de Castro Risueño, codiretor do Projeto Atapuerca, focado na evolução humana.

Pouco se sabe sobre os primeiros habitantes humanos da Europa. Existem fósseis comumente atribuídos ao Homo erectus datados de 1,8 milhão de anos em um local no Cáucaso, na Geórgia, chamado Dmanisi, nas margens da Europa. Também existem ferramentas de pedra datadas de 1,4 milhão de anos no oeste da Ucrânia, e ossos com marcas de corte, sugerindo o uso de ferramentas de pedra para esquartejar carcaças de animais, datados de 1,95 milhão de anos na Romênia.

Antes, também em Sima del Elefante, os pesquisadores recuperaram um fragmento de mandíbula estimado em 1,2 milhão de anos e de uma espécie indeterminada. Os fósseis de Pink encontrados em 2022 foram recuperados em uma camada mais profunda –e, portanto, mais antiga– no mesmo local. Um molar de criança datado aproximadamente da mesma época é conhecido de um local próximo a Granada, na Espanha, e cuja espécie também não está clara.

“Há muito poucos sítios com fósseis humanos correspondentes aos primeiros colonizadores da Europa”, afirmou o arqueólogo e coautor do estudo Xosé Pedro Rodríguez-Álvarez, da Universidade de Rovira I Virgili na Espanha.

O fóssil de Pink é mais antigo do que quaisquer restos conhecidos de Homo antecessor. E sua espécie, de acordo com os pesquisadores, pode pertencer a uma população que chegou à Europa durante uma migração anterior à do Homo antecessor.

“Não sabemos se poderiam ter coexistido por um curto período de tempo ou se nunca viveram juntos”, disse Huguet.

Próximos ao fóssil de Pink havia ferramentas de quartzo e sílex e ossos de animais com marcas de corte.

Os pesquisadores não conseguiram reconstruir o rosto completo de Pink devido à incompletude dos fósseis. Um trabalho diligente foi necessário para montar os fragmentos e revelar o terço médio do rosto, combinando métodos tradicionais de conservação e restauração com imagens sofisticadas e análises em 3D. O gênero de Pink permanece incerto.

“Há muitas perguntas a serem respondidas, e essa descoberta ajuda a escrever uma nova página na história da evolução humana”, disse Bermúdez de Castro.

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