15 mar 2025, sáb

Escola de samba feminina pode ter que voltar a ser bloco – 29/01/2025 – Mônica Bergamo

A primeira escola de samba formada só por mulheres corre o risco de ter que voltar a desfilar como bloco no Rio de Janeiro. A Turma da Paz de Madureira (TPM), agremiação da zona norte da capital fluminense, desfilou na Série Bronze, última divisão do Carnaval carioca, no ano passado.

Ficou entre as últimas colocadas e foi rebaixada. Agora, para manter o status de escola, precisa garantir um lugar no Grupo de Avaliação, espécie de peneira organizada pela Superliga Carnavalesca.

Neste segmento, a Superliga afirma que as agremiações passam por uma pré-avaliação sobre o número de componentes e outros critérios básicos para um desfile. Tendo a aprovação nessa etapa, elas vão para a avenida e são avaliadas novamente, dessa vez sobre o mérito do desfile. As melhores colocadas voltam à Série Bronze no ano seguinte, de acordo com a instituição.

A um mês do Carnaval, o resultado dessa primeira avaliação ainda não foi divulgado, o que preocupa a escola. “Ninguém me responde, não tenho certeza de nada. Estou exigindo um documento, ser notificada de que não estou apta para desfile. Se for o caso, quero saber o porquê”, diz a fundadora e presidente da TPM, Bárbara Rigaud.

Procurado, o presidente da Superliga Carnavalesca, Vinícius Luiz Macedo, afirmou à coluna na semana passada que o processo de aprovação das candidatas ao desfile no Grupo de Avaliação ocorria dentro da normalidade.

Disse também que o resultado sairia até a última segunda-feira (27), o que não ocorreu. A coluna tentou contato com a Superliga novamente nesta quarta-feira (29), mas não obteve resposta.

A TPM foi fundada como bloco carnavalesco em 20 de janeiro de 2013, no bairro Oswaldo Cruz. Dez anos depois, desfilou pela primeira vez no Grupo de Avaliação, e ficou entre as primeiras colocações, conseguindo o acesso à Série Bronze.

No final de 2024, Bárbara oficializou junto ao Inpi (Instituto Nacional de Propriedade Intelectual) a marca de primeira escola de samba do Brasil formada inteiramente por mulheres.

“Aqui, homem não desfila”, afirma. A alegação é quase verdadeira —o único homem na TPM ocupa o cargo de mestre-sala, que acompanha a porta-bandeira nos desfiles. A exceção se dá porque, historicamente, a ala de duas pessoas tem divisão de gênero marcada, composta por um casal de homem e mulher. Por enquanto.

“Nosso menino é ótimo, respeita muito a gente, e continuaremos com ele. Pelo menos até uma mulher se apresentar para mim e falar ‘eu sou mulher e mestre-sala'”, diz.

O fato de a agremiação ser composta só por mulheres fez a TPM ganhar a atenção do jornal britânico The Guardian e patrocínio da marca de maquiagens Vult, do grupo Boticário, para o desfile do ano passado.

Mas a estreia enfrentou dificuldades, mesmo com dinheiro na conta. A escola entrou na avenida com apenas cinco das 16 alas previstas, perdeu pontos e acabou rebaixada.

Bárbara atribui o incidente a um crime. Segundo ela, a TPM teve fantasias roubadas logo antes da apresentação, e metade dos componentes acabou sem as roupas necessárias para entrar na avenida.

“Foi um boicote”, diz.

Para 2025, a TPM planeja voltar para a avenida com projeto redimensionado, trazendo cerca de metade do número de componentes previstos no desfile do ano passado. Defenderá o enredo “Yabassé e a Força do Sagrado”, sobre as responsáveis pelo preparo dos alimentos sagrados nas religiões de matriz africana.


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