A disputa entre TotalPass, do empresário Edgar Corona, dono da SmartFit, e a Wellhub (ex-Gympass) ficará mais ampla com a promessa da chegada da alemã EGY Wellpas e com o reforço de operações da Classpass (EUA) e Gurupass. É o que afirmam investidores que aplicam nesses negócios e buscam barrar a verticalização do grupo de Corona.
Por esses aplicativos, um associado pode treinar em qualquer academia que integra a rede da plataforma no Brasil e até em outros países.
A dinâmica desses negócios é alvo de monitoramento pelo Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), que avalia se é nocivo ao mercado um modelo verticalizado, como o do grupo de Corona —que concentra academias e o TotalPass— ou o de agregadores que não são donos de academias —como Wellhub e as estrangeiras entrantes— e, por isso, exigem exclusividade.
Por determinação do Cade, a Wellhub só pode fechar contratos de exclusividade com até 20% das academias que compõem sua base de usuários.
Antecedentes
O caso teve início porque a TotalPass reclamou que a Wellhub estava concentrando esse mercado.
Como noticiou o Painel S.A., recentemente, a superintendência-geral do Cade aplicou multa de R$ 3 milhões à Wellhub e reabriu o processo administrativo por supostas por rescindir nas práticas anticoncorrenciais.
Isso ocorreu após academias reclamarem de novos contratos apresentados pela Wellhub com a imposição de cláusulas de exclusividade acima dos 20% permitidos anteriormente.
No processo, no entanto, a Wellhub demonstrou que somente 11% de sua base tem exclusividade. De um total de 32 mil donos de academias, estúdios ou profissionais autônomos, somente 3.500 operam só com a plataforma.
Aos técnicos do Cade, a companhia explicou que a exclusividade é a única moeda de troca possível para garantir investimentos nas academias que, atualmente, enfrentam dificuldades para levantar capital de giro na praça.
A Wellhub disse ao órgão de defesa da concorrência que metade das academias que abrem as portas acaba quebrando diante dessas barreiras.
A plataforma informou ao Cade que, num total de 6 mil academias na sua base de associados, somente 300 tiveram condições verificadas de capacidade de pagamento para tomar crédito.
Por isso, a plataforma considera ser razoável impor a exclusividade na hora em que decide investir nessas academias já que não há garantia de que, após dois anos, o dinheiro dado pela plataforma gere mais aluno e, por consequência, mais receita para o agregador.
No Cade, também há dados de que a TotalPass, rival da Wellhub, cresceu acima de 20% em contratos exclusivos após as travas impostas.
O grupo de Edgar Corona saiu de 3 mil parceiros para 25 mil até o fim de 2024. No entanto, o órgão ainda faz diligências para atestar esse resultado. A Wellhub saiu de 25 mil para 32 mil no mesmo período.
O crescimento explica o interesse das redes estrangeiras. O Brasil já é o terceiro maior mercado para academias.
A TotalPass diz que foi ao Cade para defender a livre concorrência. “O Cade foi claro ao recomendar aplicação de uma multa contra a Wellhub por descumprimento de diversas condições ajustadas no TCC [Termo de Cessação de Conduta], que proíbe não apenas a concentração superior a 20% de mercado em uma determinada região (e não na média nacional), como também celebração de contratos de exclusividade, sem observar as restrições impostas”, disse em nota.
A companhia não quer que as academias sejam obrigadas a seguir “as vontades de um determinado agregador” e avalia que essa é a melhor forma de estimular o desenvolvimento do mercado e promover inovações.
Com Stéfanie Rigamonti