23 mar 2025, dom

Festival de Curitiba terá peça com Paulo Betti – 22/03/2025 – Ilustrada

Artistas embarcam em um ônibus já muito rodado por quilômetros pelo Brasil afora para fazer apresentações em cidadezinhas interioranas. A maioria do público que os prestigia em praças e ruas nunca foi ao teatro, mas os atores itinerantes têm rostos conhecidos graças à televisão, caso de Paulo Betti, Julia Lemmertz, Deborah Evelyn e Claudia Abreu.

A peça “Os Mambembes”, uma adaptação do livro de Artur de Azevedo, é metalinguística. Os atores têm viajado pelo interior do país para encenar a história de uma trupe que tenta sobreviver de teatro nas estradas. O espetáculo será apresentado pela primeira vez em um palco na abertura do Festival de Curitiba, o maior evento de teatro do país, nesta segunda-feira (24), antes de sua estreia no Rio de Janeiro no dia 15 de maio.

Os perrengues que fazem do enredo uma comédia foram reais também fora do palco. “O ônibus quebrou, fomos vetados em uma cidade em que o prefeito era de direita, em outra o padre não queria que nos apresentássemos na frente da igreja”, conta Emílio de Mello, diretor do espetáculo.

Mas por onde passaram foram prestigiados por um público muito superior ao esperado —de 2.000 a 3.000 pessoas assistiram a cada apresentação, segundo Mello. Muitas relataram que, de fato, nunca tinham ido ao teatro. “As pessoas se interessaram muito. Foi a prova de que não importa se o costume de ir ao teatro existe, ou se há espaço físico que facilite a concentração”, diz ele. “Estouramos a bolha teatral e fomos para o Brasil.”

“É uma homenagem ao teatro, ao se representar”, diz Fabiula Passini, diretora do festival, sobre a escolha de dar a largada à programação com “Os Mambembes”. Outras peças com atores globais, que já ficaram em cartaz em São Paulo e Rio de Janeiro, também passam pelo evento.

É o caso de “Ao Vivo”, com Renata Sorrah, “Avesso do Avesso”, protagonizado por Marcelo Serrado, “Brilho Eterno”, com Reynaldo Gianecchini, “O Céu da Língua”, com Gregório Duvivier, e “Prima Facie”, com Débora Falabella, que venceu o prêmio Shell de melhor atriz por escolha do júri paulista.

No sábado (29), haverá um tributo a Ney Latorraca, morto em dezembro, com a presença do viúvo Edi Botelho e uma exposição de fotografias.

Passini destaca a variedade do festival, que traz também peças feitas fora do eixo Rio-São Paulo. É o caso de “Laborioso Contato”, encenada pela trupe Motim, do interior do Ceará, e “A Velocidade da Luz”, do argentino Marco Canali, que convocou 35 atores e não atores curitibanos para montar um espetáculo baseado em suas próprias vidas.

Há ainda produções da capital paranaense, que têm no festival uma importante janela de divulgação para o resto do país. É o caso de “Cabaré Haikai”, uma encenação da obra de Paulo Leminski, e “Daqui Ninguém Sai”, do Teatro Guaíra, o mais tradicional da cidade, que leva ao palco os contos do escritor curitibano Dalton Trevisan, morto em dezembro.

A peça, que agora soa como uma homenagem, foi batizada pelo próprio Trevisan. É o que conta a diretora, Nena Inoue, veterana do teatro curitibano e próxima ao escritor.

O cenário da história é um casarão abandonado, cheio de livros e papéis de Trevisan. Ali, um grupo de jovens se depara com os personagens de seus contos e com cartas reais inéditas. “Não conseguimos pensar em um nome para a peça. Quando contei o enredo para o Dalton, ele disse na hora: ‘Daqui Ninguém Sai’”, lembra Inoue.

A diretora, que como atriz já estrelou várias adaptações dos textos de Trevisan nos palcos, conta que já encontrou o escritor algumas vezes na plateia. “Ele assistia como se não fosse o autor e aplaudia de pé. Havia respeito pelo teatro, porque da mesma forma que ele tirava seus personagens das saunas, boates e delegacias, os atores tiram esses personagens da escrita para presentificá-los em carne e osso”, diz Inoue.

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