17 mar 2025, seg

Firefly se torna segunda empresa a pousar na Lua – 02/03/2025 – Ciência

Após uma jornada de 45 dias, no fim da madrugada deste domingo (2) a empresa texana Firefly se tornou a segunda empresa a realizar um pouso suave na Lua, com seu módulo robótico Blue Ghost.

A missão, batizada de Ghost Riders in the Sky, teve seu momento apoteótico (para usar uma expressão carnavalesca) ao final da manobra de descida de órbita, que após cerca de uma hora, levou a espaçonave a seu local de pouso, no Mare Crisium, uma das bacias localizadas no hemisfério próximo da Lua (aquele que se pode ver aqui da Terra). O pouso ocorreu às 5h34 (de Brasília).

Financiada pelo programa de transporte comercial lunar da Nasa, em que a agência espacial americana paga a empresas espaciais por carretos até a superfície da Lua, a missão carrega para ela dez instrumentos, a um preço de US$ 101,5 milhões.

Alguns deles, como o LuGRE (um receptor de sinais de GPS), já obtiveram resultados expressivos antes mesmo de que chegar à superfície. Desenvolvido em parceria pela Nasa e pela ISA (Agência Espacial Italiana), ele tem por objetivo sintonizar em sinais emitidos por satélites de navegação global em órbita da Terra, com os da conselação GPS (americana) e Galileo (europeia). Durante a viagem, foi possível demonstrar que esses satélites podem auxiliar na navegação até mesmo em uma órbita lunar. A expectativa agora é testá-lo no solo da Lua.

Outro experimento da Nasa que já rendeu dividendos durante a missão foi o RadPC, um computador tolerante a radiação desenvolvido pela Universidade Estadual de Montana. Ele operou normalmente no caminho para a Lua durante a passagem pelos cinturões de Van Allen –regiões em volta da Terra em que há concentração de radiação, por causa da magnetosfera terrestre. Ao chegar à Lua, poderá demonstrar sua capacidade de operar de forma consistente mesmo sob o ambiente lunar de radiação, mais severo que o terrestre.

Algumas das cargas úteis, contudo, só vão poder mostrar resultados reais uma vez que sejam ativadas na superfície lunar. É o caso do LPV, uma demonstração tecnológica que tem por objetivo colher de forma eficiente e transferir solo lunar para outros instrumentos científicos ou contêineres de retorno de amostras sem depender da ação da gravidade.

O mesmo se aplica ao Lexi, um telescópio de raios x heliosférico que fará observações a partir da Lua. Checagens e o comissionamento do equipamento puderam ser parcialmente conduzidos durante a viagem, mas o trabalho científico vem apenas na superfície.

Caso parecido é o do Scalpss, um sistema de câmeras destinado a capturar imagens estereoscópicas durante a descida e o pouso da espaçonave. Ele foi testado durante a viagem, mas seu trabalho aconteceu mesmo durante o processo de descida, e as imagens serão descarregadas nos próximos dias.

Espera-se que o Blue Ghost possa operar na superfície lunar por cerca de duas semanas (o tempo que dura o período diurno na Lua), antes que a fria escuridão incapacite seus sistemas. A exemplo de muitas missões lunares de baixo custo, essa também não tem a expectativa de sobreviver à noite lunar, quando as temperaturas despencam para -170 graus Celsius.

O sucesso segue resultado similar obtido pela empresa Intuitive Machines, também texana, no ano passado, com o módulo Odysseus. A essa altura, de três lançamentos no programa comercial lunar da Nasa, dois foram bem-sucedidos, uma taxa de 66%. E ela pode subir mais na próximo quinta-feira (6), quando a mesma Intuitive Machines, tentará seu segundo pouso, com o módulo Athena.

O esforço de lançar missões robóticas frequentes à Lua, como prelúdio de futuras missões tripuladas, faz parte de uma disputa geopolítica em andamento entre Estados Unidos e China. Os americanos esperam fazer sua primeira alunissagem com astronautas no século 21 em 2027, mas ainda não está claro se a atual arquitetura do programa Artemis sobreviverá a uma revisão feita pela gestão Trump. Já os chineses seguem firmes em seu intuito de realizar o primeiro pouso tripulado em 2029.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *