19 mar 2025, qua

Frei Gilson atrai fiéis de outras religiões na internet – 19/03/2025 – #Hashtag

As buscas no Google por Frei Gilson na última semana superaram nomes como o da atriz Fernanda Torres, do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de Jair Bolsonaro. Embora o boom pareça momentâneo, especialistas em mídia e religião ouvidos pelo blog #Hashtag avaliam que o sucesso do religioso nas redes sociais é fruto de um projeto de longo prazo e consolidado, que atrai um público não só de católicos.

Desde a madrugada do dia 5 de março, no início da Quaresma (período entre Carnaval e Páscoa), o sacerdote tem mobilizado diariamente 1 milhão de fiéis para orarem em uma transmissão ao vivo no YouTube.

O fenômeno de visibilidade furou a bolha e falas do religioso defendendo a submissão das mulheres, em 2024, e contra o comunismo, em 2022, viralizaram. O que fez com que tanto figuras públicas conservadoras, como Bolsonaro e o deputado Nikolas Ferreira (PL), quanto progressistas, como André Janones (Avante) e Tabata Amaral (PSB), se posicionassem.

Waldney de Souza Rodrigues Costa, professor de ciências da religião da UERN (Universidade do Estado do Rio Grande do Norte), diz que para os algoritmos que regem as redes sociais é importante o que tem acontecido com o frei Gilson. Ele ser rechaçado faz com que haja mobilização para defendê-lo. Da mesma forma que une internautas para criticá-lo.

“O desentendimento virou lucrativo no capitalismo moderno, porque agita as redes e faz as pessoas ficarem mais no Instagram, no YouTube e em todas as outras mídias. Assim, ao mesmo tempo, elas são atacadas por comerciais que vão aparecer nesses lugares.”

Frei Gilson soma 8,3 milhões de seguidores no Instagram, 6,8 milhões no YouTube, 2,4 milhões no Facebook, 1,5 milhão no canal do WhatsApp, 887 mil no TikTok e 151,4 mil no X (antigo Twitter).

Marco Túlio de Sousa, pesquisador de comunicação e religião e professor do Centro Universitário Adventista de São Paulo (UNASP), afirma que esses números, embora potencializados pelas polêmicas, nascem de um trabalho de longo prazo.

Para o especialista, uma das razões para esse sucesso é a pandemia da Covid-19, quando fiéis buscaram no ambiente digital modos de vivenciar a fé. O pesquisador também atribui o êxito à qualidade estética e ao bom conhecimento das linguagens digitais, além da identificação do público com a mensagem cristã.

“Para ter bom alcance nas plataformas, não basta ser bom orador. É necessário conhecer as nuances que as caracterizam e frei Gilson conseguiu entender a lógica de funcionamento”, diz Sousa.

No canal do YouTube, por exemplo, além de transmissões ao vivo, há missas, vídeos curtos com reflexões sobre trechos da Bíblia e músicas cantadas pelo frei. No WhatsApp, são compartilhados links para vídeos e áudios do sacerdote direcionados aos fiéis.

Aline Amaro da Silva, professora de teologia prática na PUC-MG e coautora do livro “Influenciadores Digitais Católicos: Efeitos e Perspectivas” (Ideias e Letras, 2024), diz que a bem-sucedida trajetória de Gilson não pode ser atribuída apenas ao mundo digital. O frei participa de rádios católicas e tem um programa no canal de TV Canção Nova.

Além disso, a pesquisadora afirma que a presença de frei Gilson na mídia começou pela música, com o primeiro álbum lançado em 2015. Assim, ela o classifica como parte de dois fenômenos do segmento: padres cantores e influenciadores digitais católicos.

Waldney Costa afirma que quando um conteúdo religioso é produzido sem se restringir a uma determinada doutrina consegue atrair simpatizantes de outros credos. Quem consome o faz por gostar do formato, por lazer, sem necessariamente ter a pretensão de se converter. “É só olhar os comentários no YouTube que acha alguém falando: ‘Eu não sou católico, mas eu acompanho.”

Para Costa, o frei Gilson faz parte do movimento carismático católico, iniciado no final da década de 1960, em que padres se tornaram mais midiáticos. O pesquisador afirma que essa parcela se assemelha com os evangélicos, principalmente na forma pela qual a fé é manifestada. Isso explica a defesa de personalidades mais conversadoras aos discursos dele que foram viralizados.

Marco Túlio de Sousa diz que a Igreja Católica não é homogênea. Por essa razão, apesar do sucesso de frei Gilson nas redes sociais, ele não representa todos os grupos que compõem a instituição. No entanto, desponta como um dos nomes de maior proeminência na internet.

Waldney Costa diz que, com a ascensão do religioso, outros líderes católicos podem acabar surgindo e ganhando mais atenção. Da mesma forma, o comportamento de Gilson pode influenciar outros sacerdotes. “Assim como cada cidade acabou tendo seu Marcelo Rossi em algum momento, com padres que faziam a missa cantando.”


LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar sete acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *