15 mar 2025, sáb

Gottino sobre Cidade Alerta: não posso estimular violência – 15/03/2025 – Outro Canal

Aracaju

Reinaldo Gottino tem um discurso diferente do geralmente propagado por apresentadores de programas policiais na TV brasileira. Para ele, violência não se resolve com mais violência.

“Eu não posso usar o espaço que eu tenho na televisão para estimular mais violência num país violento, onde mulheres são mortas todos os dias, onde minorias são massacradas”, diz em entrevista à coluna, sua primeira como titular do telejornal popular mais importante da Record.

Na emissora desde 2005 (com uma breve passagem pela CNN Brasil em 2019), Gottino assumiu o Cidade Alerta em janeiro, após a saída de Luiz Bacci da emissora. Conseguiu não só manter os bons índices que o antecessor alcançava, ele ampliou os resultados.

Na última quarta-feira (12), por exemplo, o Cidade Alerta chegou a vencer a Globo por quase uma hora, contra a transmissão de futebol feminino, com picos de até 11 pontos na Grande São Paulo, graças a informações sobre o polêmico caso da jovem Vitória Maria, morta em Cajamar (SP).

Na entrevista, Gottino também fala do jeito “quietão” longe das câmeras, comenta as mudanças que tem feito no programa e a forte concorrência de programas policiais na TV nos fins de tarde. “Tem demanda, mas o Cidade Alerta é um programa tradicional”, afirma. Leia abaixo os principais trechos.

Como você assumiu o Cidade Alerta?

Foi uma surpresa pra mim. Eu estava voltando de férias, ia assumir o Balanço Geral na segunda-feira. Na sexta-feira à noite, a Record me convidou pra assumir o Cidade Alerta, e me perguntaram se eu toparia começar na segunda-feira. Respondi que estaria à disposição. Para mim, ia ser difícil sair do Balanço Geral, foi um programa que eu sempre adorei fazer. Mas eles disseram que eu tinha o perfil necessário para substituir o Bacci. E eu topei.

O que mudou na sua rotina?

Mudou totalmente minha vida. Eu acordava 6 da manhã, fazia exercício e ia para a Record pouco depois das 7h. Participava da produção do Balanço Geral, apresentava o programa, 15h30 eu ia embora. Agora, eu entro 13h. Uma coisa que é interessante: meu filho foi pra faculdade e ele entre 13h. Eu o levo de carro todo o dia agora. Isso tem sido bacana.

Você tem ido para a rua fazer reportagens, algo incomum para apresentadores do gênero. Por quê?

Eu sempre gostei de sair pra rua pra fazer reportagem. Mas, no Balanço, eu não conseguia por causa do horário. Como eu tinha gravações de chamadas pra fazer, eu tinha que estar no estúdio 11h. Qualquer lugar de São Paulo era no mínimo meia hora pra ir, meia hora pra voltar e no mínimo meia hora pra fazer a matéria. Agora, no Cidade, não mais. Eu consigo sair e quero sair mais.

Hoje, das quatro maiores TVs do país, três tem programas policiais no horário. Não é demais?

O Cidade Alerta é um programa tradicional. Temos 30 anos no horário. Eu acho que a concorrência é saudável, porque o telespectador escolhe onde ele vai assistir, o que ele quer assistir. Tem várias vertentes nesse assunto, mas eu coloco o meu jeito. Mostro para o telespectador que vou estar mesmo em cima da notícia. Tem coisa acontecendo no Rio? Vou mostrar na hora. A gente monitora chuva, caso do delator do PCC, tudo. É assim que tento me diferenciar.

Você já disse que não é a favor de “bandido bom é bandido morto” e que defende ressocialização de criminosos anos atrás. Ainda mantém essa opinião?

Sim. Eu não mudo em nada. Eu não posso usar o espaço que eu tenho na televisão para estimular mais violência num país violento, onde mulheres são mortas todos os dias e minorias são massacradas diariamente, embora eu seja um defensor de leis mais duras para quem comete crimes. Eu acredito em investimento na educação, porque senão a gente vai ficar num ciclo vicioso de violência e punição. A gente está vendo essa garotada crescendo sem área de lazer, sem estímulo na escola, sem emprego, sem profissão. É um problema muito mais complexo. Eu acho que a gente tem que ter leis severas, tem que ter punição, mas a gente tem que ter investimento em áreas importantes para mudar essa realidade.

Você é conselheiro do Palmeiras? Me fala da sua vida fora da TV…

Sim, ainda sou conselheiro do Palmeiras. Eu gosto de fazer o que as pessoas curtem fazer. Sou um cara muito comum. Bom você perguntar isso: fora do ar, eu sou um cara muito tímido, introvertido. Às vezes, as pessoas acham que eu vou abrir falar com elas como abro o programa. Outro dia, uma pessoa me encontrou e disse: “Nossa, você é quietão, né?”. E eu sou mesmo. As pessoas me estranham um pouco por que sou na minha.

Com 20 anos de Record, você tem algum desejo na TV ainda?

Eu gosto de fazer jornalismo, eu gosto de fazer jornal, de fazer reportagem, de ir atrás da notícia. Eu gosto de trabalhar todo dia, de ter um compromisso. Programa de auditório? Não. Eu gosto de fazer jornalismo. É isso que eu sei fazer.


Cobre diariamente os bastidores das novelas, do telejornalismo e da mídia esportiva. Tem como titular o jornalista Gabriel Vaquer

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