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Grammy, mais político, coroa Beyoncé e recupera The Weeknd – 03/02/2025 – Ilustrada

Los Angeles vive o caos, queimada por uma onda de incêndios, mas o Grammy fez festa. A premiação mais importante da música levou à cidade uma trupe dos cantores mais desejados do momento, oferecendo prêmios a Sabrina Carpenter, Kendrick Lamar e Beyoncé, coroada a grande vencedora do ano com seu “Cowboy Carter”. Mas não foi uma cerimônia como a de costume.

Mais político que nunca, o Grammy terminou sua 67ª edição repleto de manifestações. Não apenas de louvores à capital da Califórnia, onde é sediado, mas também com críticas a Donald Trump, que voltou à Presidência americana neste ano.

Foi o que fez Lady Gaga, que no palco da premiação pediu respeito às pessoas trans após o presidente decretar a suspensão de passaportes com gênero X para quem se identifica como não binário. “Trans não são invisíveis. Merecem amor. A comunidade tem que lhes dar amor, e música é amor”, disse a cantora.

Já a colombiana Shakira celebrou os imigrantes, comunidade alvo de ataques do presidente dos Estados Unidos, e apresentou sua antiga “Ojos Así”, que entrelaça sonoridades do Oriente Médio —escolha nada aleatória em pleno período de cessar-fogo em Gaza. “Vocês, imigrantes, são amados, têm valor. Sempre lutarei ao seu lado.”

Alicia Keys, que recebeu uma homenagem por seu impacto na música, pediu por mais diversidade e disse que não há ameaça no DEI, programa de inclusão que foi encerrado por Trump.

Para além dos embaraços do presidente, o Grammy foi palco de várias homenagens a Los Angeles. Lady Gaga e Bruno Mars se uniram para louvar sonhos californianos em “California Dreamin”, e Chappell Roan, laureada com o troféu de artista revelação, tocou “Pink Pony Club”, inspirada pelas boates LGBTQIA+ de Los Angeles. Antes, Billie Eilish apresentou sua romântica “Birds of a Feather” em frente a paisagens bucólicas de Los Angeles, onde ela nasceu.

O evento abriu com uma performance de “I Love L.A.”, canção de Randy Newman, no palco tocada pelos artistas Brad Paisley, Brittany Howard, John Legend, Sheryl Crowl e St. Vincent.

O apresentador Trevor Noah, conhecido por misturar comédia e pitacos políticos, fez um discurso para pedir doações aos afetados pelos incêndios. “Bairros inteiros foram destruídos, comércios, comunidades inteiras foram devastadas pelo fogo”, ele disse. “Mas, mesmo com toda a destruição, o espírito da cidade está ressurgindo. Hoje estamos celebrando a cidade que trouxe tanta música para nossa vida. Los Angeles foi onde Billie Eilish e Finneas transformaram um quarto num estúdio, onde Stevie Wonder compôs e gravou Songs in the Key of Life, um dos maiores discos de todos os tempos.”

Aliás, Wonder surgiu mais tarde, de óculos escuro, para cantar “We Are the World” em homenagem à capital da Califórnia e também num tributo ao produtor Quincy Jones, morto no ano passado. Pessoas vestindo camisetas que diziam “eu amo L.A.” se enfileiraram no palco.

Mais cedo, a rapper Doechii pediu que meninas negras não ouçam quem tenta diminuí-las, porque tudo é possível, e que ela era testemunho disso —a americana se tornou a terceira mulher da história a vencer na categoria álbum de rap, depois de Lauryn Hill e Cardi B.

Quem não fez discursos muito emocionantes, porém, foi Beyoncé. A cantora do Texas finalmente venceu seu primeiro Grammy de álbum do ano, após anos sendo esnobada nesta categoria. Ela venceu com o “Cowboy Carter”, disco de country que mexeu nas arestas do gênero atrelado à fatia mais branca e conservadora dos americanos.

Beyoncé usou poucas palavras para agradecer aos dois prêmios que recebeu durante a cerimônia, este e o de melhor álbum country. “Faz muitos anos,” disse Beyoncé no seu último discurso, antes de dedicar o troféu a Linda Martell, primeira artista negra a conseguir algum destaque no country.

Assim, a artista agora tem a maior honraria do evento que antes só a premiava em categorias laterais —ainda que ela seja recordista de vitórias, com 35 estatuetas. Ela já perdeu álbum do ano para Taylor Swift, Beck, Adele e Harry Styles, todos artistas brancos e mais jovens que ela, o que reforçava as críticas de que o Grammy tem viés racista.

A premiação está disposta a apagar essa mancha. Além de presentear Beyoncé, fez as pazes com The Weeknd, seu maior crítico e persona non grata ali dentro. O canadense, que há cinco anos chamou o evento de corrupto depois de ficar de fora da lista de indicados com o disco “After Hours”, apareceu de surpresa este ano na premiação, onde cantou músicas do seu novo álbum “Hurry Up Tomorrow”.

Ele foi anunciado por Harvey Mason Jr., o CEO do Grammy, que lembrou o boicote do artista e afirmou que vinha tentando tornar o prêmio mais diverso. Segundo ele, 40% dos votantes agora são de minorias raciais, e 60% são pessoas novas.

O Grammy deu ainda metade dos seus principais troféus para outro artista negro, o rapper Kendrick Lamar, laureado com canção e gravação do ano por “Not Like Us”. Ele não era considerado favorito em nenhuma das categorias, o que indica uma mudança repentina de direção dos 13 mil votantes que formam o júri da premiação.

Eles não deram nenhum prêmio para Taylor Swift e Billie Eilish, por exemplo, duas das artistas favoritas da premiação. Swift, que é vencedora recordista de álbum do ano, com quatro vitórias, desta vez foi à festa só para fazer as caras e bocas que divertem seus fãs e viram meme nas redes sociais —além de ter sido escalada para entregar o prêmio de álbum country a Beyoncé.

Mas outros resultados foram previsíveis. Como já esperado, Lady Gaga e Bruno Mars venceram performance pop em duo ou grupo pelo hit “Die with a Smile”, e Chapell Roan foi reconhecida como a artista revelação do ano. Não foi surpreendente também ver Sabrina Carpenter levar álbum pop vocal com seu “Short n’ Sweet”, que deu a ela projeção mundial depois de dez anos de carreira.

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