Em 2027, o próximo presidente da República não será capaz de governar com o atual conjunto de regras orçamentárias —pomposamente chamado de arcabouço fiscal— sem gerar inflação e aumento da dívida pública. É o diagnóstico da ministra do Planejamento, Simone Tebet, revelado em entrevista concedida à GloboNews.
Para ela, o país não pode desperdiçar o último bimestre de 2026, o período entre a eleição e a posse do próximo mandatário, para rever as regras de gastos públicos e torná-las mais rigorosas.
Seria o oposto da janela da gastança no final de 2022, termo usado pela ministra, quando foi aprovada a proposta de emenda constitucional (PEC) da transição de governo, que adicionou R$ 150 bilhões anuais nas despesas. Tal montante foi muito além do necessário para a recomposição de políticas públicas, como amplamente diagnosticado à época.
O que se fez foi abrir um grande espaço para medidas perdulárias e enfraquecimento de controles, algo devidamente aproveitado pelo governo e pelo Congresso.
Sobre essa base já elevada foi construído o arcabouço petista —o conjunto de normas que deveria reger o ritmo de crescimento das despesas públicas, mas que se mostrou, não sem repetidos alertas de especialistas, frouxo e insuficiente para limitar a escalada da dívida e a inflação.
Tebet se queixou do Congresso Nacional, que não se portou como o parceiro fiscalista esperado nos momentos cruciais e tampouco estaria disposto a discutir qualquer ajuste antes das eleições gerais de 2026. Essa seria, avaliou, a realidade da política brasileira.
Embora isso de fato faça parte do quadro, outro aspecto bem mais impactante da realidade foi ignorado pela crítica da ministra do Planejamento: o de que a liderança no trato de grandes temas nacionais parte do Palácio do Planalto, que até aqui se mostrou avesso, em palavras e ações, a qualquer ajuste contundente no Orçamento federal.
O risco de tais deficiências derrubarem a economia, entretanto, não esperará 2027. Na verdade, o impacto da irresponsabilidade da administração petista no trato das contas públicas já se mostra presente para a população.
A inflação, nos itens de primeira necessidade, em especial alimentos, corrói o poder de compra e o bem-estar das famílias. A alta dos juros, resultado da desconfiança na gestão fiscal, encarece o crédito, eleva ainda mais a dívida do Tesouro e trava consumo e investimentos. Tudo sugere, ademais, que a atividade crescerá menos neste ano, com provável piora na geração de empregos.
Lula desperdiçou a janela dos primeiros dois anos de mandato para garantir a estabilidade econômica. Programas sociais, investimento em infraestrutura e geração de empregos ficam insustentáveis sem contas em ordem e controle do endividamento.
Se não mudar de rumo —estamos em 2025 e há tempo— logo, limitará o que resta de seu governo à mera contenção de danos.