15 mar 2025, sáb

Livro mostra como ‘soft power’ indiano propagou religiões – 31/01/2025 – Darwin e Deus

A chamada Rota da Seda e sua possível nova encarnação por meio de vultosos investimentos da China moderna costumam ser vistas como um dos mais importantes fenômenos geopolíticos do passado e do presente. Durante boa parte da Antiguidade e da Idade Média, porém, a Rota da Seda estava muito longe de ter a mesma importância do que a “Rota do Ouro”: as conexões religiosas, culturais e comerciais que levaram a criatividade da Índia para o mundo.

Em resumo, essa é a tese do livro “The Golden Road” (Bloomsbury Publishing, 496 págs., R$ 44,99 no formato audiolivro), obra do escritor escocês William Dalrymple, um dos apresentadores do podcast Empire (já resenhado anteriormente aqui no blog).

Dalrymple alia erudição e texto saboroso numa viagem que começa na Antiguidade, logo após o primeiro contato dos greco-macedônios de Alexandre, o Grande com as civilizações indianas, e vai até o fim da Idade Média. Seria preciso uma série de posts para explorar o conteúdo do livro como um todo, mas, para nossos propósitos aqui, o mais interessante é como a Índia transformou suas duas grandes fés nativas, o hinduísmo e o budismo, em religiões globais usando praticamente apenas o “soft power”.

É claro que conversões de grandes grupos a uma nova fé já aconteceram pacificamente em diversos lugares do mundo. Na África ao sul da Saara, por exemplo, a expansão inicial do Islã se deu por redes de solidariedade entre comerciantes que atravessavam o deserto rumo às savanas mais ao sul.

Mas nada se compara à exportação em massa das crenças indianas a partir do fim da Era Cristã, atingindo a China, o Japão e praticamente todo o Sudeste Asiático, para não falar do movimento para o oeste, rumo à Ásia Central e ao Oriente Médio, que foi revertido apenas com a ascensão muçulmana no século 7 d.C. Antes disso, a grande religião do continente asiático era o budismo.

As religiões indianas também mostraram notável capacidade de absorver elementos da espiritualidade local, ao mesmo tempo em que transformavam o sânscrito no “latim da Ásia”, a língua da alta cultura por excelência de Kyoto ao Afeganistão. E tudo isso sem conquistas militares de monta. Em geral, o que acontecia eram alianças de aristocratas indianos emigrados com a realeza local, como parece ter sido o caso no Camboja. É uma história que merece ser conhecida.


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