15 mar 2025, sáb

Mercado projeta juros em dois dígitos sob Galípolo no BC – 28/01/2025 – Mercado

O mercado financeiro projeta que Gabriel Galípolo terá de conviver com juros de dois dígitos até o fim do seu mandato como presidente do Banco Central, em 2028.

De acordo com o boletim Focus divulgado nesta segunda-feira (27), os analistas consultados pelo BC estimam que a taxa básica de juros fechará 2025 em 15% ao ano. Hoje, a Selic está em 12,25% e, se o plano da própria autoridade monetária se confirmar, os juros vão subir mais dois pontos percentuais até março.

A primeira alta, de um ponto, deve ser anunciada nesta quarta-feira (29) pelo Copom (Comitê de Política Monetária).

Para 2026 e 2027, a mediana das expectativas para Selic subiu para 12,5% e 10,38% ao ano, respectivamente. A pesquisa Focus mostrou também que ficou estável, pela quinta semana consecutiva, a projeção de 10% ao ano para a taxa básica ao final de 2028.

Indicado ao comando do BC pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Galípolo assumiu o posto em 1º de janeiro e terá um mandato de quatro anos. Conforme a lei de autonomia formal da autoridade monetária, em vigor desde 2021, ele poderá ser reconduzido ao cargo uma vez.

Apesar do choque de juros anunciado pelo Copom em dezembro, ainda na gestão de Roberto Campos Neto no BC, as expectativas de inflação continuaram se deteriorando semana após semana –motivo de desconforto para todos os membros do colegiado.

A piora nas projeções reflete a desconfiança dos economistas com o compromisso do governo Lula com o equilíbrio das contas públicas e a sustentabilidade do arcabouço fiscal. Em novembro, o Copom reforçou o alerta sobre risco fiscal e disse que uma piora adicional das expectativas de inflação poderia prolongar o ciclo de alta de juros.

Nos cálculos dos economistas, pesa também o cenário externo mais incerto, com a volta de Donald Trump ao poder nos Estados Unidos. As primeiras medidas anunciadas pelo republicado foram pouco concretas, o que trouxe alívio temporário nos preços dos ativos.

Em entrevista à Folha, em julho do ano passado, o economista-chefe do Citi Brasil, Leonardo Porto, disse que a Selic em dois dígitos poderia se tornar mais regra do que a exceção no Brasil.

“Para o Banco Central colocar a Selic em um dígito, a gente vai precisar ter eventualmente choques temporários, uma atividade econômica que sofre impacto recessivo e ter um processo de reancoragem das expectativas mais contundente, o que não está me parecendo o cenário mais provável, ainda que seja desejável”, afirmou ele na ocasião.

Os agentes econômicos veem pouco espaço para corte da Selic ainda em 2025. Para Solange Srour, diretora de macroeconomia para o Brasil no UBS Global Wealth Management, será muito difícil interromper o ciclo de alta de juros sem perder a credibilidade se a atividade econômica não perder força nos próximos meses.

Os dados mais recentes sobre o mercado de crédito reforçam o desafio que o Copom terá pela frente para conseguir desacelerar a economia e levar a inflação em direção à meta.

A inflação oficial do Brasil, medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), fechou 2024 com alta acumulada de 4,83%. O alvo central perseguido pelo BC é 3%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. Isso significa que a meta é considerada cumprida quando oscila entre 1,5% (piso) e 4,5% (teto).

Em carta aberta ao ministro da Fazenda (Fernando Haddad), Galípolo atribuiu o estouro da meta de inflação à força da economia brasileira, ao câmbio depreciado e a fatores climáticos, em um cenário de expectativas deterioradas.

No último relatório trimestral de inflação, publicado em dezembro, o BC afirmou que o IPCA seguirá acima do limite superior da meta até o terceiro trimestre de 2025, entrando depois em trajetória de declínio.

Srour, que também é colunista da Folha, alerta para outro cenário mais preocupante: a economia desacelera, mas não há brecha para o BC interromper a escalada de juros porque as expectativas de inflação continuam subindo e o risco fiscal segue no radar.

“Apesar de Galípolo ter feito um trabalho muito positivo de mostrar continuidade, desde a dissidência [em maio], ter um trabalho muito bom de mostrar coesão e, na última reunião, ter sido dado um forward guidance [sinalização futura] que garante uma certa tranquilidade por um tempo, o desafio vai ser muito grande para frente e a credibilidade vai ter que ser comprada reunião a reunião” diz.

Ela não descarta ruído com a ala política do governo pelos juros altos à frente, ainda que Galípolo conte com a confiança de Lula. “Não acho que a base política esteja preparada para receber a notícia de que a Selic vai ter que ir acima de 14,25%. Vai ser um problema para o Banco Central”, afirma.

Tony Volpon, ex-diretor do BC e professor-adjunto da Georgetown University, diz que tradicionalmente novos chefes de autoridades monetárias são mais duros no início da gestão e que Galípolo vem seguindo a cartilha nesse sentido.

Para o economista, o principal teste do novo presidente virá quando tiver de dar um remédio amargo de juros para controlar a inflação em um cenário de desaceleração da economia.

“A gente só entende a qualidade do presidente de um Banco Central quando ele tem de fazer a escolha entre atividade e inflação. Quando não tem esse conflito, o que vai fazer é meio óbvio, e o que vai pesar um pouquinho é a velocidade”, afirma.

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