A relação de empresários do setor de alta tecnologia com Donald Trump, presidente dos EUA, levanta questões sobre a chamada tecnocracia. O termo se refere a uma forma de governança na qual a tomada de decisões é liderada por especialistas, cientistas e engenheiros, em vez de políticos ou a elite econômica.
A ideia é antiga. O grego Platão imaginou uma sociedade chefiada por reis-filósofos, já que eles detêm sabedoria superior.
Apesar do nobre propósito de instituir a racionalidade como base de governo, o modelo tende a descambar no autoritarismo, quando não aliado a princípios morais e democráticos.
No século 20, URSS e Alemanha nazista foram guiadas por elementos tecnocráticos —planejamento econômico centralizado, engenharia social, rígido sistema burocrático ou eugenia.
Trump recebeu apoio de Mark Zuckerberg, dono do Facebook, Jeff Bezos, fundador da Amazon, e Elon Musk, proprietário do X, da Tesla e da SpaceX. Esse último foi o maior doador dos republicanos nas eleições de 2024 e, atualmente, lidera o Departamento de Eficiência Governamental.
Musk já assediou funcionários públicos por email, promoveu demissões em massa sem transparência e anulou contratos que já haviam sido cancelados. Mesmo assim, os gastos do governo chegaram a US$ 603 bilhões (quase R$ 3,5 tri) em fevereiro —alta de 7% ante o mesmo período de 2024.
O sistema de freios e contrapesos americano age com batalhas em tribunais e suspensões de demissões pela Justiça, revelando riscos inerentes à atribuição de poder desmedido aos algoritmos dos tecnólogos, ainda mais quando são bilionários regidos por interesses econômicos.
Mas como disse outro grego, Aristóteles, a virtude está no meio entre os extremos.
Evidências científicas e planejamento são ferramentas cruciais para a eficiência de políticas públicas. Assim mostram os países nórdicos e alguns asiáticos. No Brasil, por exemplo, faria bem uma gestão mais racional. Da inflação ao saneamento básico, passando pela educação precária, falta técnica e sobra populismo.