Pesquisas sobre comportamento no escritório não são científicas. Em uma pesquisa global realizada no ano passado pela Kickresume, uma empresa que ajuda a criar currículos, 85% das pessoas disseram ter tido um colega de trabalho irritante. Isso significa que os 15% restantes são ou trabalhadores autônomos ou mentirosos.
Mas as pesquisas ainda podem revelar verdades sobre o que irrita as pessoas. A da Kickresume colocou a apropriação de crédito alheio no topo da lista de comportamentos irritantes de colegas, assim como um levantamento de trabalhadores britânicos em 2022 feito pela Perspectus Global, uma empresa de pesquisa.
Outra pesquisa recente, desta vez com trabalhadores americanos e conduzida pela BambooHR, coroou o roubo de crédito pelas ideias dos funcionários como a pior característica de gestão.
Você entendeu a ideia. Apropriar-se da ideia alheia deixa muitas pessoas irritadas. Na verdade, isso é visto como inaceitável desde muito cedo: pesquisas mostraram que crianças de apenas cinco anos desaprovam o plágio.
Feito intencionalmente e repetidamente, o roubo de crédito é não apenas irritante mas prejudicial para a organização: ideias são guardadas, a confiança se desgasta e a motivação despenca.
Um artigo recente de Siyuan Chen da Universidade Jiaotong de Pequim e seus coautores descobriu que a reivindicação de crédito por executivos em uma grande empresa de manufatura chinesa estava associada a um pior desempenho no trabalho por parte dos funcionários.
Quando algo acontece com frequência e é extremamente irritante, é necessário um mecanismo de enfrentamento. Então, da próxima vez que você ouvir sua ideia brilhante saindo da boca de um colega, respire fundo e lembre-se de três coisas.
Primeiro, o roubo de crédito pode ser menos malévolo do que se imagina. Psicólogos há muito documentaram um fenômeno chamado “criptomnésia”, no qual as pessoas plagiariam inadvertidamente as ideias dos outros.
Experimentos sobre criptomnésia variam, mas o cenário básico é que os participantes de um grupo são solicitados a gerar ideias para resolver um problema específico. Em seguida, são instruídos a se lembrar apenas de suas próprias ideias e a apresentar novas ideias que não repliquem as que já foram levantadas.
Apesar dessas instruções, as pessoas tendem a reivindicar uma boa parte das ideias antigas como suas e a copiar sugestões anteriores ao levantar ostensivamente novas ideias. As pessoas podem roubar crédito sem nem perceber.
Segundo, a inovação raramente assume a forma de uma ideia totalmente nova; em vez disso, ela recombina ideias existentes. E as pessoas muitas vezes chegam às mesmas conclusões de forma independente.
Essa é a mensagem de “Like”, um novo livro divertido de Martin Reeves e Bob Goodman sobre as origens do botão “curtir”. O ícone de polegar para cima tornou-se onipresente quando o Facebook o adotou, em 2009, mas, bem antes disso, empresas como Vimeo, Yelp, Digg.com e FriendFeed já estavam experimentando maneiras de os usuários registrarem uma reação emocional ao conteúdo.
Então, mesmo que você pense em uma ideia como seu próprio golpe de gênio, a realidade provavelmente é mais confusa.
Terceiro, o roubo de crédito pode sair pela culatra. Chefes decentes sabem que o sucesso vem de equipes de pessoas, não de indivíduos (chefes ruins simplesmente apropriarão a ideia como sua de qualquer maneira).
Um estudo de Eric VanEpps, da Universidade Vanderbilt, e seus coautores descobriu que a melhor maneira de demonstrar tanto competência quanto simpatia é combinar um pouco de autovalorização com um pouco de elogio aos outros. E, embora expressar orgulho nas conquistas, mesmo que não sejam suas, possa ser uma boa maneira de comunicar sucesso, é melhor não ser muito específico.
Um artigo de Rebecca Schaumberg, da Wharton School da Universidade da Pensilvânia, analisa o que acontece quando as pessoas demonstram orgulho em um desempenho cujos detalhes são conhecidos por outros.
Imagine, por exemplo, dois programadores que postam pontuações altas idênticas em uma competição de programação; um entra em uma euforia de comemoração e o outro diz que não está tão orgulhoso de como se saiu. Os observadores consideram que o programador eufórico está no auge de seu potencial e julgam o mais discreto como mais habilidoso.
Os ladrões de crédito ostensivos podem parecer menos, não mais, competentes.
Idealmente, você não precisaria se reconciliar com um pouco de roubo de crédito. O reconhecimento seria simplesmente distribuído de forma precisa. Mas, mesmo quando o crédito foi alocado adequadamente, há outro problema.
O trabalho de Heather Sarsons, da Universidade da Colúmbia Britânica e outros, mostrou que economistas acadêmicos homens obtêm estabilidade no emprego independentemente de serem autores solo ou coautores de artigos; as mulheres têm menos probabilidade de obter estabilidade quanto mais coautoras forem.
Isso sugere que os preconceitos ainda podem acabar distorcendo o reconhecimento quando não é possível saber quem mais contribuiu em uma equipe. Isso realmente é irritante.
Texto do The Economist, traduzido por Gustavo Soares, publicado sob licença. O artigo original, em inglês, pode ser encontrado em www.economist.com