14 mar 2025, sex

A ação da Natura&Co mergulha quase 30% na manhã de hoje depois da gigante de cosméticos reportar um quarto tri com números bem aquém das projeções do mercado. 

A maior decepção foi a margem bruta, que ficou em 63,2% enquanto o mercado esperava algo próximo de 66%. A margem foi impactada por promoções mais agressivas e um mix pior nas vendas, com kits de Natal que têm margem menor.  

A queda na margem bruta desceu para o EBITDA, que também chocou o mercado. A Natura entregou um EBITDA de R$ 703 milhões, cerca de 30% abaixo do consenso Bloomberg

A margem EBITDA ficou em 9,1%, uma queda de 70 bps ano contra ano. 

A queda no EBITDA foi impactada também por despesas operacionais maiores que o esperado, em parte porque a Natura passou a contabilizar alguns investimentos em TI e sistemas como opex em vez de capex

O Bradesco BBI calcula que isso gerou um impacto de 160 bps na margem EBITDA. Outro fator que pesou nas despesas foram os royalties maiores da Avon, que geraram um impacto de 50 bps na margem. Segundo o banco, mesmo excluindo esses fatores a margem EBITDA teria ficado 150 bps abaixo do consenso.

A Natura entregou um prejuízo de R$ 463 milhões no trimestre, impactado principalmente pelos custos com o processo de Chapter 11 da Avon Products nos EUA, que consumiu R$ 843 milhões.

O lucro foi impactado ainda pelos investimentos na integração da Onda 2 de transformação da companhia, além de custos com as operações descontinuadas, que somaram R$ 114 milhões. 

O único lado positivo foi a receita, que cresceu 16,1% em moeda constante para R$ 7,7 bilhões. A marca Natura cresceu 21% no Brasil e duplo dígito na América Hispânica, enquanto a Avon ficou flat no Brasil e caiu na América Hispânica.

“Os resultados da Natura não chegaram nem perto do que a gente e o mercado esperava do ponto de vista operacional,” escreveu o JP Morgan. “A companhia confirmou as boas tendências de top line, mas despesas maiores levaram ao ‘miss’, mesmo quando ajustado pelas despesas de TI e investimentos em sistemas que eram capitalizados no passado.”

O mercado agora espera uma visão mais clara sobre as perspectivas para o ano, já que uma margem bruta persistentemente menor e maiores despesas podem levar a uma revisão das estimativas do sellside

Outro tema chave é uma potencial solução para a Avon Internacional. A Natura já disse que está buscando uma alternativa para o ativo, incluindo uma venda ou um investimento minoritário, mas não há visibilidade sobre o timing desse processo. 

Na call com analistas, o management da companhia atribuiu boa parte do ‘miss’ de rentabilidade ao impacto da operação na Argentina. O CFO Guilherme Castellan não chegou a quantificar o tamanho desse impacto, mas disse que excluindo a Argentina a expansão de margem bruta não teria sido igual a dos tris anteriores, mas teria sido “bastante substancial.”

O CFO disse ainda que o mercado não deve ancorar suas expectativas de margem no quarto tri, já que os impactos da Argentina não devem continuar nos próximos trimestres. 

O mercado apertou o botão de pânico.

A ação desaba 27% por volta das 11h20 para o menor preço em 10 anos (ajustado por dividendos), com a Natura agora valendo R$ 14 bilhões na Bolsa.

O volume projetado para o dia é de R$ 2,2 bilhões, 17 vezes a média diária. 




Pedro Arbex




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