18 mar 2025, ter

O que escrever em tempos de tanto blá-blá-blá? – 18/03/2025 – Mirian Goldenberg

Foi uma alegria participar do programa Diálogos com Mario Sergio Conti, na Globonews, no Dia da Mulher. A conversa terminou depois de meia-noite e não consegui dormir, pois fiquei ruminando as respostas que eu poderia ter dado para as boas perguntas do excelente entrevistador.

Quando Mario me perguntou se a situação dos idosos melhorou ou piorou no Brasil, respondi que piorou bastante, especialmente durante a pandemia, e falei que o que mais me angustia é a violência física, verbal e psicológica que os mais velhos sofrem dentro das próprias casas e famílias.

No entanto, esqueci de dizer que mais de 50% da violência contra os idosos é praticada pelos próprios filhos e filhas, e mais de 10% pelos cônjuges, noras, genros, netos e netas.

Também não falei das categorias que criei para pensar sobre a situação dos mais velhos no Brasil: velhofobia, velheuforia e velhautonomia. Queria muito ter respondido que, para construir uma “bela velhice”, precisamos tirar os óculos da velhofobia e colocar os óculos da velhautonomia. Fica para outro Diálogos, não é mesmo, Mario?

Durante o voo de volta para o Rio de Janeiro, lembrei-me de uma pergunta que ele me fez antes do programa: “Você escreve as colunas com facilidade?”. Depois que tenho a ideia, escrevo com facilidade. Quando encontro uma boa pergunta, escrevo a primeira versão e fico a semana inteira reescrevendo até a hora de enviar a coluna. O mais difícil é ter a ideia.

Ele concordou: “O mais difícil é ter a ideia”.

Algumas vezes tenho três ou quatro ideias e escolho enviar a que considero mais interessante. Em outras, as ideias demoram a surgir, especialmente sobre temas que provocam paixões e polêmicas. Depois de tantos textos sobre “Ainda Estou Aqui”, será que tenho algo de relevante para escrever? E sobre a injustiça do Oscar com Fernanda Torres? E sobre Fernanda Montenegro, que, aos 95 anos, está brilhando como “Vitória”?

No livro “A Arte de Pesquisar”, mostro que o “ponto de saturação” é o momento em que preciso parar de coletar novos dados, pois eles não acrescentariam nada ao que já sei sobre o tema pesquisado.

Contei para Mario que alguns leitores me pedem para parar de escrever sobre velhice e velhofobia. Eles preferem quando combino sexo com envelhecimento, como em “O sexo das mulheres mais velhas”, minha coluna com mais visualizações no site da Folha.

Lembrei-me de um comentário que recebi sobre a coluna “Elas também mentem descaradamente! Por que tantas mulheres fingem orgasmos?” (11/2/2025):

“Oi Mirian. Confesso que não estava mais lendo sua coluna desde que você mudou de tema e ficou quase monotonicamente falando de envelhecimento, coisa que, aos 57 anos, ainda não me interessa rs. Veja como ao mudar de tema o engajamento e discussão aumentaram exponencialmente. Espero continuar a prestigiá-la”.

Depois da conversa com Mario, reli a coluna que escrevi sobre o tratado “A Arte de Calar”, de 1771. Terminei a coluna “Quando todos parecem ter opinião sobre tudo, às vezes é melhor se calar” (9/8/2016) com uma pergunta: “Em tempos de muito ruído, tagarelice e blá-blá-blá, com tantas queixas sobre a falta de escuta e de diálogo, você sabe quando é o momento certo de calar?”.

Afinal, “há um tempo de calar, assim como há um tempo de falar”. Mas o que escrever em tempos de tanto blá-blá-blá?


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