Com a estatueta do Oscar na mão, o diretor Walter Salles celebrou o público e a cultura brasileira ao falar com jornalistas na sala de imprensa da cerimônia, além de fazer um alerta pela “fragilidade da democracia” nos EUA e no Brasil.
Para ele, muito mais que um longa brasileiro foi reconhecido nesta noite de domingo, com o Oscar de melhor filme internacional.
“É a cultura brasileira em geral que está sendo reconhecida. É a maneira como fazemos cinema no Brasil que foi reconhecida”, disse Salles, citando também a literatura com o livro de Marcelo Rubens Paiva, no qual o filme foi baseado, e a música.
“O filme é realmente liderado por Caetano Veloso, Erasmo Carlos e tantos outros cantores extraordinários cuja música realmente deu um sentido a muitas das cenas do filme.”
O diretor agradeceu ao público brasileiro pelo apoio e ainda chamou os brasileiros de coautores do filme. Com cinco milhões de espectadores no país, o longa chamou atenção de jornais de diferentes países, o que que ajudou a aumentar sua visibilidade no mundo.
“Os jornais viram que havia um filme quebrando a barreira do sistema político binário no Brasil e realmente oferecendo um reflexo da nossa história”, disse Salles.
Como no seu discurso ao vivo, o diretor voltou a falar de Eunice Paiva, advogada brasileira que é vivida por Fernanda Torres e Fernanda Montenegro em épocas diferentes da vida em “Ainda Estou Aqui”.
“Acho que Eunice ainda está nos guiando. Eunice está realmente nos protegendo e está aqui”, disse.
“Ao mesmo tempo, Fernanda Torres e Fernanda Montenegro, duas atrizes brasileiras extraordinárias, nos mostraram que resistir é importante na arte. E elas fizeram isso, resistiram e floresceram. Então, isto [o Oscar] é para essas três mulheres extraordinárias.”
Salles também falou de memória e democracia, dois assuntos que estão no centro do filme, que se passa durante a ditadura brasileira nos anos 1970.
“Vivemos um momento em que a memória está sendo apagada como um projeto de poder. Então, criar memória é extremamente importante”, disse.
“A democracia está se tornando tão frágil em todos os lugares do mundo, nunca pensei que seria tão frágil, mesmo neste país [EUA]”, disse. “Portanto, o que aconteceu no Brasil no passado parece muito próximo do nosso presente hoje em dia.”
Ao ser questionado por um jornalista sobre o que achava de ser um cineasta na era digital das plataformas de streaming e das mídias sociais, respondeu que não saberia responder: “Sou muito analógico!”
Mas, simpático como sempre, Salles explicou que seu filme foi rodado em 35mm e usou muito Super 8.
“Tentei trabalhar de uma forma em que pudéssemos recriar a memória de um período específico, e uma das maneiras de fazer isso era realmente escapar do digital”, disse Salles.
“Queríamos mergulhar o público naquela era específica sem nenhuma interferência artificial. Acho que isso ajudou muito.”