22 mar 2025, sáb

Pais desconhecem cigarros eletrônicos, e filhos acham que são legalizados no país – 21/03/2025 – Equilíbrio e Saúde

A Prefeitura do Rio de Janeiro tem feito uma ofensiva contra os cigarros eletrônicos, com campanhas sobre os seus malefícios voltada aos mais jovens, atualização do veto do uso em locais públicos e ampliação da oferta de tratamentos para parar de fumar nas clínicas de família.

O pacote de ações antitabaco também inclui o cigarro convencional, o narguilé, entre outros, e foi apresentado nesta semana durante encontro em Paris (França) de uma parceria global para cidades saudáveis, que reúne 74 municípios no mundo. No Brasil, Rio, São Paulo e Fortaleza, que foi premiada no evento, integram a lista.

A PHC (Partnership for Healthy Cities), uma aliança criada em 2017 e apoiada pela Bloomberg Philanthropies em parceria com a OMS (Organização Mundial da Saúde) e a Vital Strategies, atua capacitando cidades no mundo no desenvolvimento de políticas públicas que reduzam o impacto das doenças crônicas não transmissíveis, responsáveis por mais de 80% das mortes passíveis de prevenção.

A política antitabagista recomendada inclui transformar todos os espaços públicos, postos de trabalho e transporte público lugares 100% livres de fumo, proibir publicidade, promoção e patrocínio, incluindo a exposição em pontos de venda, e aumento dos impostos sobre produtos de tabaco.

Entre as ações desenvolvidas no Rio e apresentadas no encontro, há uma pesquisa qualitativa feita com 58 jovens entre 15 e 25 anos e seus pais que serviu para nortear uma nova campanha educativa sobre os cigarros eletrônicos, também chamados por vapes e pods.

Os resultados mostram que o primeiro acesso ao dispositivo eletrônico de fumar tem sido entre 14 e 17 anos, e a facilidade de adquiri-lo faz com que o jovem normalize seu uso, acreditando erroneamente que sua comercialização é legal no Brasil. Os cigarros eletrônicos são proibidos pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

Dentre as motivações para o uso, eles mencionam o fato de ser “modinha”, o sabor, de ser socialmente aceito, de não ter cheiro desagradável, de “render” mais, de desestressar, de não enjoar por ter variedade e poder usar em qualquer lugar.

Entre as desvantagens, os jovens citam malefícios para a saúde física e psicológica e qualidade de vida, o risco de explosão no rosto do usuário, além do alto custo, da falsificação e da possibilidade de adição de qualquer substância ao produto (maconha, querosene, água sanitária).

Em relação aos pais, a pesquisa mostra que muitos não sabem ainda o que é um vape ou acham que os dispositivos são inofensivos e não fazem mal à saúde. Mas existe a preocupação de ser uma eventual porta de entrada para outras drogas. Os pais também relataram a facilidade dos jovens fumarem escondido, por deixar menos rastros.

“O dispositivo eletrônico é o nosso principal foco de ação agora. A gente sabe que, apesar de a venda ser proibida no Brasil, o uso tem aumentado e é quase impossível a gente controlar, pela saúde pública, os pontos informais de venda”, afirma o secretário municipal da Saúde do Rio, Daniel Soranz.

Por isso, a estratégia principal de combate está voltada para a educação. “Estamos tentando informar ao máximo os pais, os próprios adolescentes, os professores, os profissionais de saúde, do quanto que isso pode ser danoso à saúde.”

Soranz afirma que o tratamento antitabagismo entrou para a carteira básica de serviços de toda a atenção básica, nas 238 clínicas de família da cidade, que cobrem 81% do município. Inclui grupos educativos e medicação quando necessária.

Ele diz que foi montado um banco de dados com o mapa dos fumantes na rede pública de saúde e que a dependência passou a ser acompanhada em cada consulta. “Mesmo que a pessoa não inicie o tratamento ou não queira parar de fumar naquele momento, a gente pode abordá-la sucessivas vezes ao longo de cada contato, desde o agente comunitário até os profissionais médicos, enfermeiros”, diz o secretário.

As ações da vigilância sanitária de controle e fiscalização de propaganda e dos locais de exposição dos produtos ligados ao tabaco também foram ampliadas. “Quase todos os nossos alvarás são expedidos por meios eletrônicos, o que liberou o time para poder fazer fiscalizações mais focadas e específicas em determinados locais”, diz Soranz.

Para Aline Pinheiro Borges, presidente do Instituto Municipal de Vigilância Sanitária do Rio de Janeiro, a educação em relação ao respeito às regras de não fumar em lugar fechado, inclusive varandas, ainda é um desafio. “Qualquer anteparo ao redor já é considerado como fechado. E só agora o pessoal começou a reconhecer que um dispositivo eletrônico para fumar também é proibido.”

Na opinião de Paula Johns, diretora da ACT Promoção da Saúde e que participou do comitê de seleção das iniciativas premiadas no encontro em Paris, a discussão sobre a regulação dos aditivos de sabor, que cabe tanto para o vape quanto para os cigarros tradicionais e que está parada há dez anos, precisa ser retomada no Brasil. “Um dos motivos pelos quais o vape é super atrativo para a criança é o sabor.”

A repórter Cláudia Collucci viajou a Paris a convite da PHC (Partnership for a Healthy Cities)

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