Ao dissolver o Parlamento na quinta (13) e convocar eleições para 18 de maio, o presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, firmou sua aposta na reinvenção da aliança entre a centro-esquerda e a centro-direita para formar um governo com maioria no Legislativo.
Em seus cálculos, um novo pleito garantiria maior estabilidade política e governabilidade.
Desde 2021, é a segunda vez que os portugueses assistem à queda de seu primeiro-ministro —Luís Montenegro, do Partido Social Democrata (PSD)— e a terceira que são convocados a participar de eleições parlamentares.
Há riscos, por óbvio, como o potencial avanço do Chega, partido de extrema direita que, alavancado por seu discurso anti-imigração, obteve 18% dos votos e 48 cadeiras na Assembleia da República em 2024.
A decisão de Rebelo foi tomada depois de a moção de confiança apresentada pelo premiê de centro-direita ser rejeitada pela Assembleia da República. Dado o caráter minoritário de seu governo, o gesto de Montenegro sinalizou ousadia, naturalmente percebida pelo presidente.
Ademais, o primeiro-ministro é alvo central de uma investigação do Legislativo sobre pagamentos de conglomerados portugueses por serviços de uma consultoria criada por ele e atualmente gerida por seus familiares.
Mas a convocação das eleições para maio poderia ser contornada. Bastaria a Rebelo escolher outro nome do PSD de Montenegro, sigla à qual o mandatário fora historicamente filiado. O novo pleito, porém, obteve respaldo do Conselho de Estado, órgão que reúne todos os partidos políticos.
Nos últimos quatro anos do mandato de Rebelo, que foi reeleito em 2021, a governabilidade do país provou-se mais complexa sob a batuta dos gabinetes minoritários de Montenegro e de António Costa, o premiê anterior filiado ao Partido Socialista. Construir gabinetes centristas majoritários, entretanto, não é tarefa fácil nem panaceia.
Desde 2015, a geringonça —como é chamada a aliança liderada pelo Partido Socialista com apoio do PSD serviu ao governo. Mas a coalizão vem sendo erodida por escândalos de corrupção.
A união dos dois maiores partidos de Portugal, que somaram quase 60% dos votos em 2024, num gabinete de centro com maioria na Assembleia só será testada após 18 de maio.
Projetam-se, contudo, poucas chances de sucesso. Talvez tenha faltado a Rebelo considerar que a geringonça pode vir a sair enfraquecida das urnas e, pior, com a extrema direita fortalecida.