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Racismo: coletivo empodera negras no terceiro setor – 03/02/2025 – Folha Social+

Desde que começou a participar de congressos e eventos do terceiro setor, há uma década, a assistente social Stella Moraes, 39, diretora da ONG Anjos da Tia Stellinha, sente um incômodo: ela geralmente é a única mulher negra no palco.

“Percebia que as outras estavam na plateia ou em funções de serviço, como recepção e limpeza, mas nunca palestrando”, diz a líder da organização carioca que ajuda famílias vulneráveis a saírem da pobreza.

Foi movida por essa inquietação que Stellinha decidiu se unir à empreendedora social Daiany Saldanha para fundar, no ano passado, o Coletivo Pretas do Impacto.

Com quase cem membros, a rede busca fortalecer a presença e a influência de mulheres negras no ecossistema de impacto, oferecendo a elas oportunidades de capacitação e visibilidade.

Além de firmar parcerias para obter descontos e bolsas em cursos para suas integrantes, o coletivo se articula com organizadores de congressos para incluir mulheres negras nos quadros de palestrantes. O grupo já realizou a curadoria de eventos como o Fife (Fórum Interamericano de Filantropia Estratégica) e o Giro Filantropia.

“Ser palestrante é um diferencial no currículo e traz visibilidade para a ONG e o fortalecimento da marca pessoal de sua gestora”, explica Stellinha.

O holofote ajuda empreendedoras negras e periféricas na hora de pleitear financiamento, um dos maiores desafios que enfrentam.

De acordo com pesquisa realizada pela Iniciativa Pipa e o Instituto Nu em 2022, 95% dos coletivos, movimentos e organizações originados em favelas e periferias têm dificuldades para acessar recursos para seus projetos.

“O maior volume de dinheiro no setor de impacto está concentrado nos grandes institutos de empresas, que competem com ONGs de base comunitária. E quem ocupa as cadeiras desses institutos e está tomando as decisões são mulheres brancas, já que o setor social é majoritariamente feminino”, diz a cofundadora do Coletivo Pretas do Impacto.

A desigualdade racial se faz evidente sobretudo nos conselhos deliberativos de institutos, fundações e fundos familiares, onde 92% dos membros são brancos, segundo o Censo Gife 2022-2023.

A pesquisa concluiu que levará cerca de 60 anos para que todas as 167 organizações analisadas tenham ao menos uma pessoa negra em seus conselhos.

“É impossível que o setor de impacto não espelhe o modelo de sociedade. Isso faz com que muitas mulheres abandonem sua vocação por acreditarem não ser possível fazer carreira no segmento.”

Unir essas empreendedoras para que não desistam é um dos méritos do coletivo, na visão de Mônica Fernandes, CEO da Empoderar-te, empresa social que oferece mentorias, palestras e cursos para ajudar mulheres a alcançarem a independência financeira.

“Dentro das comunidades, mulheres negras lideram negócios e criam soluções para problemas coletivos. Mas, muitas vezes, atuamos de forma isolada, sem organização ou comunicação, cada uma no próprio corre”, diz a cearense, que integra o grupo desde sua criação.

“Quando surgiu a proposta do coletivo, percebi que era exatamente o que faltava: um movimento que nos unisse para agirmos de forma estruturada e mais forte.”

Para os próximos passos, o coletivo deve investir nos serviços de curadoria para eventos, formação de palestrantes, orientação de carreira e mentoria entre pares.

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