17 mar 2025, seg

Rio: bairro da Glória vive ‘hype’, mas preços são altos – 16/03/2025 – Cotidiano

“A Glória era tida como algo ruim. Só com questões de roubo e problemas. E, hoje em dia, isso mudou aos olhos de quem vem para cá.” É assim que a publicitária Moema Dias, 48, se refere ao “hype” do bairro, na zona sul do Rio de Janeiro.

Moradora do bairro desde que nasceu, a carioca conta que a região vive um “boom” de pessoas procurando o que fazer por lá quase todos os dias. Mas nem sempre foi assim. “As pessoas não davam valor para a Glória e agora ela está na crista da onda.”

O lugar ganhou ainda mais destaque em 2022, depois que o bairro passou por um processo de revitalização e a praça Edson Cortes foi reinaugurada. Dessa forma, a Glória atraiu rodas de samba, ampliou a feira e fez com que se tornasse um ponto turístico, mesmo em dias muito quentes na capital carioca.

A mudança não passou despercebida e fez com que a revista britânica Time Out elegesse o bairro como um dos mais legais do mundo, em setembro de 2024. Porém, com a popularidade, vieram os problemas.

Segundo os moradores, ficou muito mais difícil caminhar pelas ruas no entorno e ainda fazer uma feira de forma tranquila aos finais de semana. A tradicional feira da Glória, antes frequentada apenas por locais, virou atração turística. Moema diz que, depois das 10h, o espaço fica intransitável.

O aumento de alguns itens também foi sentido por ela. “Os preços subiram com certeza. Isso em relação às frutas, legumes, vegetais, as coisas que realmente vendiam antigamente na feira da Glória, já antigamente era apenas uma feira livre”, diz.

Outro produto que mais encareceu nos últimos meses foi a tapioca, um dos itens mais procurados da feira, segundo os locais. “Notei que subiu, sim, os preços quando a feira começou a ficar mais famosa. Era tipo R$ 7, passou para R$ 9, R$ 10, e hoje acho que está R$ 15.”

Essa popularidade do bairro, segundo ela, começou depois da pandemia, mas se intensificou após obras de revitalização. A moradora também diz acreditar que as redes sociais contribuíram para que o local ficasse famoso.

O feirante Marlon Reis afirma que o encarecimento de preços não é uma estratégia para aproveitar o sucesso da região. “Não posso dizer por todos os feirantes, mas eu não aumento o preço para estrangeiro ou turista, por exemplo, até porque tenho muitos clientes que vêm todos os domingos.”

A criadora de conteúdo Mary Teles, 33, também esteve na Glória semanas atrás e notou como o local se tornou um ponto de encontro tanto para cariocas quanto para turistas. Ela se espantou com a quantidade de gente ao chegar à feira. “Foi a segunda vez que fui, e estava lotada. Meu marido, que é estrangeiro, ficou surpreso com a quantidade de gente.”

A relevância do bairro resultou ainda em um aumento expressivo no valor dos aluguéis e nas ofertas de lazer para os moradores. A líder de projetos Nathália Laquini, 31, mora na região há quatros anos e diz que foi afetada pela mudança de preços.

Mesmo concordando que praticamente tudo aumentou, ela atribuiu o reajuste nos valores de locação de imóveis à valorização do bairro. Nos últimos dois anos, desde que a Glória se tornou tendência, o custo da moradia para ela aumentou mais de 40%.

Antes, os aluguéis eram comparáveis aos da zona norte, mas isso mudou. “Estão pagando o que for para morar na Glória”, afirma. Outros moradores repetiram para a reportagem a queixa de “hipervalorização” dos aluguéis.

O barulho também se tornou uma causa de reclamação frequente, que, segundo ela, está diretamente ligado à chegada de um público de fora do bairro. Alguns comerciantes apostam em atrações para jovens, como blocos de rua e música, mas sem um controle de volume ou de horário.

Segundo as moradoras, há um movimento acima do comum nas ruas do bairro. Alguns locais ficaram impraticáveis aos finais de semana e os estabelecimentos estão sempre cheios.

“Hoje em dia é um inferno para você andar. Você vai ao Vila Rica, um restaurante, ou ao Chimeninho, ou ao Braseirinho e você não consegue mesa no domingo. Não é só na feira, o bairro inteiro fica cheio”, diz Moema.

Por causa disso, os preços de bares e restaurantes também aumentaram, de acordo com a líder de projetos. “O bar do Oscar, que ficou bastante ‘hypado’ e com muitos clientes, o preço aumentou bastante. A unidade do pastel que era R$ 6 ou R$ 7 foi para R$ 10, R$ 12. Cerveja que era R$ 9 chegou a R$ 13”, diz.

Embora ache bom para o comércio local, a publicitária afirma que muitos moradores estão começando a ficar irritados com a situação. E a superlotação não ocorre só aos finais de semanas.

Moema afirma que o movimento de gente sempre está nos arredores, devido a uma universidade e jovens que procuram os bares da região. “É um bairro tido como boêmio.”

“A Glória está num momento muito bom. Só acho que não pode exagerar mais, não pode passar do ponto que está, em relação à feira, em relação aos domingos, em relação à quantidade de pessoas”, diz a moradora.

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