É uma imagem emblemática para o esporte brasileiro em Jogos Olímpicos. Los Angeles, 1984, final dos 800 m rasos. Joaquim Cruz, com um incrível sprint, conquista o ouro. Atrás dele, em segundo, ficou um britânico chamado Sebastian Coe.
Mais de 40 anos depois daquele dia de verão californiano, Coe está na reta final de outra disputa: para o cargo mais desejado do esporte, a presidência do Comitê Olímpico Internacional (COI).
A eleição para escolher o substituto do alemão Thomas Bach será em 20 de março. São sete candidatos. Coe parece ter tomado a dianteira nos últimos dias. Vem participando de uma maratona de entrevistas para jornais e TVs e, em toda oportunidade, lista sua experiência como atleta e gestor. O currículo de fato é bem completo, assim como a poderosa engrenagem de marketing de sua candidatura. É campeão olímpico, liderou o Comitê Organizador dos Jogos de Londres de 2012, é atual presidente da World Athletics, federação internacional do esporte.
Coe é eficiente ao circular por diferentes meios. A World Athletics liderou o banimento aos russos em Olimpíadas, pauta popular na mídia europeia. E ele sabe lidar com jornalistas. Inteligente, articulado, como bom inglês, não levanta a voz (ao menos em público), fazendo jus ao título de “lorde” concedido pela rainha Elizabeth 2ª. Além de contar com a simpatia da imprensa daqui por ser britânico.
Tem apoio de atletas por ser o primeiro dirigente de federação internacional a dar premiação em dinheiro para campeões olímpicos do seu esporte, em Paris-2024. Passa confiança ao público ao falar abertamente sobre um assunto espinhoso: que receberia uma candidatura da Arábia Saudita para sediar os Jogos de 2040. Não vê problema em organizar o evento no outono europeu por causa do calor caso os sauditas fossem vitoriosos: “Com o aquecimento global, até 2040 teremos ajustado o calendário de qualquer forma”.
Mostra jogo de cintura político ao dizer que vai trabalhar ao lado de Donald Trump até Los Angeles-2028. E pode, quem sabe, conseguir suporte de integrantes do COI ao querer fortalecer a entidade, puxando para si a responsabilidade sobre a participação de atletas transgêneros em competições femininas.
Atualmente, as federações internacionais decidem sobre elegibilidade de gênero. Coe se declara “em defesa das mulheres”.
Pelas regras da World Athletics, quem passou pela puberdade masculina está barrado da categoria feminina em eventos internacionais. Estudos científicos revelaram que mulheres trans têm vantagem competitiva no atletismo em força, resistência, potência e capacidade pulmonar mesmo com medicações para diminuir níveis de testosterona.
Polêmicas em torno do tema têm gerado uma imagem negativa para o movimento olímpico. Arrisco dizer que, em breve, atletas transgêneros estarão proibidos de disputar os Jogos (mas isso é assunto para outra coluna).
Outros dois candidatos podem vencer: Juan Samaranch Jr. e a campeã olímpica de natação Kirsty Coventry, preferida de Bach, mas preterida por alguns por ser a mais jovem, 41 anos, e mulher.
É claro que uma eleição secreta, decidida pelos membros do COI, é imprevisível. Mas Coe tem calculado cada passo para, desta vez, terminar em primeiro nesta disputa.