O setor de sistemas de armazenamento de energia teme que o leilão exclusivo para a tecnologia acabe tendo sua demanda “desidratada” pela contratação que virá antes de reserva de capacidade de usinas termelétricas e hidrelétricas, afirmou nesta quarta-feira (19) um representante da indústria.
O governo brasileiro decidiu não incluir as baterias no leilão de reserva de capacidade marcado para 27 de junho, voltado apenas para as fontes termelétrica e hidrelétrica, e planeja um certame inédito só para as soluções de armazenamento, mas ainda sem data definida para ocorrer.
A preocupação é que o governo contrate nas fontes tradicionais grande parte da demanda de potência do sistema elétrico brasileiro nos próximos anos, e deixe um volume pouco representativo para o leilão de baterias, usando-o mais como um “teste”, afirmou Marcelo Rodrigues, vice-presidente de novos negócios e soluções da fabricante de baterias UCB Power.
Segundo ele, o volume de cadastros de projetos termelétricos e hidrelétricos para o leilão de junho “impressionou” o mercado. Foram cerca de 74 gigawatts (GW) de potência, sendo 67% de projetos de termelétricas novas, 30% termelétricas existentes e 3% ampliações de hidrelétricas, conforme dados da EPE (Empresa de Pesquisa Energética).
A demanda de potência a ser contratada nos leilões é uma informação confidencial do governo, e só revelada após a realização dos certames.
“(O medo é) o Brasil querer fazer um teste. Nós (da indústria de baterias) estamos prontos… (a tecnologia) Está comprovada lá fora, é um benefício para o sistema e para o consumidor”, disse o executivo, que estava presente no Cela (Clean Energy Latin America).
Rodrigues, que também é conselheiro da ABSAE (Associação Brasileira de Soluções de Armazenamento de Energia), disse que a entidade está tratando com o Ministério de Minas e Energia sobre o tema.
“Nós estamos brigando para 3 GW de potência… Mas acho que 2 GW já está bom. Menos que isso a gente acha que é prêmio de consolo”, afirmou Rodrigues.
A expectativa do Ministério de Minas e Energia é de que o certame voltado para armazenamento de energia fique para o segundo semestre de 2025, disse o secretário Nacional de Transição Energética e Planejamento, Thiago Barral. Segundo ele, o ineditismo do certame e o calendário repleto de leilões do governo neste ano levaram o evento para a segunda metade de 2025.
Rodrigues afirmou que há um grande apetite do mercado para viabilizar grandes projetos de baterias no Brasil. Hoje a solução já é adotada em pequena escala, funcionando por exemplo como “backup” em consumidores que precisam ter fornecimento estável de energia elétrica.
A UCB Power atua principalmente com baterias “low voltage”, em aplicações como sistemas isolados de energia e instalações de telecom, e está se posicionando para iniciar os primeiros projetos de armazenamento de larga escala.
A empresa brasileira, que possui fábricas em Manaus e Extrema (MG), anunciou no mês passado uma parceria com a norte-americana Powin para ingressar no mercado de grandes soluções, já de olho no leilão a ser realizado pelo governo.
“A ideia é trazer a experiência deles em implementação de sistemas de armazenamento de alta capacidade, para negociar para produção no Brasil de maneira econômica… Já estamos preparados, o que preciso é ter sinalização de volume para poder produzir”, afirmou Rodrigues.