“Sabe qual é o segredo pra aguentar a noite todinha?/ Tadalafila, tadalafila/ Só assim pra apagar o fogaréu dessa novinha.” Já ouviu essa letra cantada pelo grupo Barões da Pisadinha?
E esta aqui, de Gabriel Gava: “Tadala é vida, tadala é massa/ Pra corrente não cair na segunda pedalada”? Isso sem falar em “Tadala”, hit recente de Tierry que fala de um sujeito que foi à farmácia comprar tadalafila e ficou triste ao ver a ex comprando pílula do dia seguinte.
Pois é, a tal da tadalafila tá em tudo o que é música. E caiu no gosto dos adolescentes, que têm falado abertamente sobre ela nas redes sociais. Mas do que se trata?
A tadalafila é um medicamento contra a impotência sexual. Por muito tempo, teve como público-alvo homens mais velhos com dificuldades urinárias ou disfunção erétil. Era um daqueles remédios que talvez ficassem guardados na gaveta do banheiro, longe dos holofotes e, principalmente, das rodas de conversa. Agora, tem jovem guardando no bolso.
Só no primeiro semestre de 2024, 31,1 milhões de caixas com a medicação foram vendidas no Brasil, segundo levantamento feito pela Anvisa a pedido da BBC News Brasil.
“Eu e meu namorado encontramos uma caixinha na rua e ele me contou tudo a respeito. Ele entende sobre o assunto. Mesmo sem nunca ter usado”, afirma Thais, estudante de 19 anos.
O comentário dela resume bem a onda azulzinha entre os adolescentes. O remédio se tornou uma tendência, uma daquelas modas que pegam porque alguém disse que pode ser útil. A substância, que tem ação vasodilatadora e facilita a ereção, se espalhou em grupos de amigos, academias e redes sociais, onde é vendida como uma solução para o desempenho perfeito no sexo.
O urologista João Brunhara explica que a popularização do remédio acontece por dois motivos principais. Há um crescimento real de problemas de ereção entre jovens, causado pelo estresse do cotidiano, aumento nos niveis de ansiedade e até consumo excessivo de pornografia, cada vez mais fácil de ser acessada.
Em segundo lugar, porque o uso recreativo da tadalafila oferece recompensas atrativas, como ereções mais duradouras e a possibilidade de manter relações sexuais sucessivas com menos tempo entre uma e outra.
“O cara sente que vai ter uma resposta garantida e isso gera confiança. Ele acha que, com a tadalafila, o desempenho vai ser impecável”, diz Brunhara.
Pela busca do sexo sem falhas, tomar um tadala acaba se tornando um hábito. “Isso gera uma dependência psicológica, o corpo continua funcionando normalmente, mas a cabeça não acompanha”, afirma o urologista.
O uso do fármaco pode levar a quedas bruscas de pressão em casos mais graves. Os sintomas mais comuns são dor de cabeça e tontura.
Leonardo tinha 17 anos quando tomou tadalafila pela primeira vez. Disse que foi muito fácil de encontrar. “Melhor isso do que passar por aquela humilhação na hora”, afirma o estudante.
Meses depois, o ritual virou hábito. Ele sentia que, sem o remédio, algo poderia dar errado. Quando tentou transar sem ele, a insegurança atrapalhou. A tadalafila, que deveria ser um recurso ocasional, se tornou um gatilho de ansiedade. “Pensei em procurar uma psicóloga, mas o remédio parecia uma solução mais rápida”
“O jovem que nunca teve um problema fisiológico passa a acreditar que só funciona com o remédio. E, quando tenta sem, a insegurança pode levar justamente ao que ele queria evitar, afirma o urologista Brunhara.
Há um detalhe curioso nisso: o consumo do medicamento não é tratado com vergonha. Pelo contrário, há um certo orgulho entre aqueles que tomam o remédio sem precisar. Bateu um cansaço? Vai de tadala. Quer impressionar? Joga um azulzinho e pronto. Nas redes sociais, o discurso se tornou quase um ritual de masculinidade. Como se admitir que precisa de um remédio fosse uma forma de afirmar virilidade, e não o contrário.
Nas letras de músicas, a insegurança também aparece: “O instinto falou mais alto que eu, não posso falhar.” canta Tierry na letra de “Tadala”
A possibilidade de o aumento do uso estar relacionado ao consumo de outras drogas entre os mais jovens é descartada pelo infectologista Pedro Campana, fundador do NuMA, Núcleo de Medicina Afetiva em São Paulo.
Na verdade ele nota um aumento do “chemsex”, isto é, da prática do sexo com drogas, mas acredita que a tendência esteja mais ligada a um perfil mais velho e mais rico.”Não é uma droga de jovem, muitas vezes elas são caras e precisa ter um poder aquisitivo para começar a usar”