O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, oficializou neste sábado (1º) uma de suas principais promessas de campanha e impôs tarifas sobre importações do Canadá, México e China, em uma ação que pode destravar uma nova era de guerras comerciais entre a maior economia do mundo e três de seus principais parceiros comerciais.
Trump assinou um decreto aplicando tarifas adicionais de 25% a todas as importações do Canadá e México, com exceção de produtos de petróleo e da energia canadenses, que enfrentarão uma taxa de 10%.
O Canadá é de longe o maior fornecedor de petróleo dos EUA, respondendo por cerca de 60% das importações americanas de petróleo bruto.
Um oficial da Casa Branca disse que tarifas mais baixas para energia canadense visam minimizar os “efeitos disruptivos” nos custos da gasolina e do aquecimento doméstico nos EUA, mas confirmou que não haveria mais exclusões.
As importações com origem na China enfrentarão uma tarifa de 10%, além das tarifas existentes dos EUA.
Segundo Casa Branca, as novas tarifas entrarão em vigor a partir de terça-feira (4). O governo afirmou que cada decreto contém uma cláusula anti-retaliação, de modo que, se algum país decidir revidar, medidas adicionais serão implementadas, provavelmente como aumento das tarifas.
Até a publicação deste texto, os parceiros comerciais atingidos não haviam se manifestado. Havia expectativa de que o primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, anunciasse tarifas retaliatórias ainda na noite deste sábado.
Trump utilizou a Lei de Poderes Econômicos de Emergência Internacional, uma norma executiva que lhe permite responder a emergências por meio de medidas econômicas. Com isso, o presidente americano pode aplicar as tarifas sem precisar de aprovação do Congresso.
A ação abrupta de Trump frustrará as esperanças de países que esperavam uma abordagem mais lenta e cautelosa em relação à política comercial, depois que o governo do republicano ordenou uma série de revisões nas relações comerciais dos EUA no dia da posse.
Isso também indica a disposição de Trump em usar tarifas para pressionar aliados em questões que vão desde imigração até tráfico de drogas. Trump justificou as tarifas reclamando da segurança frouxa nas fronteiras com México e Canadá, e argumentando que ambos —junto com a China— não fizeram o suficiente para conter o fluxo de opioides mortais para os EUA.
Um oficial da Casa Branca disse que as tarifas seriam suspensas assim que “os americanos pararem de morrer por fentanil feito na China e distribuído por México e Canadá”. Esse mesmo oficial acrescentou que a decisão não é “apenas sobre fentanil, é realmente uma questão de segurança na fronteira.”
Em uma sessão de perguntas e respostas com jornalistas na tarde de sexta (31), Trump também apontou para o déficit comercial dos EUA com Canadá, México e China, descrevendo suas tarifas como puramente econômicas e negando que fossem uma ferramenta de negociação.
Trump reconheceu que tarifas abrangentes contra parceiros comerciais dos EUA podem causar alguma “disrupção”, mas acrescentou que as taxas tornarão os EUA “muito ricos e muito fortes.”
Na sexta, o presidente afirmoue que planejava impor tarifas também sobre as importações da União Europeia, mas o anúncio deste sábado não incluiu medidas relacionadas ao bloco.
Trump não impôs a tarifa de 60% sobre as importações chinesas que havia ameaçado durante a campanha presidencial. A taxa de 10% foi projetada para punir Pequim pelo fluxo de ingredientes para fabricar fentanil, um opiáceo mortal que tem sido a principal causa de morte para americanos com idades entre 18 e 45 anos nos últimos três anos.
Pequim reprimiu a exportação de fentanil há vários anos, mas grupos na China passaram a exportar produtos químicos precursores para cartéis no México produzirem o produto final.
Dimitry Anastakis, professor de negócios da Universidade de Toronto, disse que as tarifas dos EUA podem ser um choque tão doloroso quanto a pandemia de Covid-19.
“É desnecessário e bastante estúpido”, disse. “Isso é como usar uma marreta para um problema inexistente na economia da América do Norte que estava funcionando muito bem.”
Anastakis prevê dano imediato no comércio automotivo, perda de empregos e uma provável recessão no Canadá.